Talvez um dos momentos mais plenos e despretensiosos da existência humana seja a conversa. Não me refiro aqui ao ato de verbalizar em palavras o que se sente, de apenas falar, mas de cambiar ideias sem um roteiro prévio, sob o impulso da vontade de troca, tanto de expressão quanto da escuta, rumo a um horizonte que pode não ser comum, mas se interliga também nas diferenças, simbolicamente.
Há algo de profundamente estimulante, e curativo, nesse momento em que vozes confluem, ideias ao mesmo tempo podem coincidir, colidir e se completar, e os encontros de olhares, e respirações, nos afastam do estarmos sós, e nos colocam em milagrosa união, nem que seja por algumas horas, provando que a humanidade é, de fato, uma benção.
Tive a sorte de ter na vida grandes amigos ouvintes. Alguns estão bem longe, em outros continentes, ou aqui mesmo na cidade, mas nem sempre os vejo. Não faz mal. Ainda que ausentes, guardo no corpo a memória da escuta terna, das palavras que poderiam afagar ou confrontar, mas sempre demonstraram interesse pela essência do que eu tinha a dizer. E também se calar. Delas me alimento até hoje, porque tenho certeza da existência dessa cumplicidade mágica.
Há algo de profundamente estimulante, e curativo, nesse momento em que vozes confluem, ideias ao mesmo tempo podem coincidir, colidir e se completar, e os encontros de olhares, e respirações, nos afastam do estarmos sós, e nos colocam em milagrosa união…
A conversa verdadeira também se dá nos silêncios, no saber respeitar o tempo do outro, e esperar o momento certo de retomar o fio da meada, mesmo que demore dias, ou meses. Há que se ter um tanto de paciência, porque vivemos sob a urgência de tudo saber, e controlar. Em um verdadeiro diálogo, as pausas se impõem como elementos essenciais à comunicação plena, assim como são fundamentais na música.
Alguns dos momentos mais inesquecíveis, e mágicos, que guardarei para sempre na memória, são conversas despretensiosas, que brotaram do chão como plantas, e cresceram como frondosas árvores até ganharem asas, e alçar voos inimagináveis. Espero por elas, ainda que tenha quase absoluta certeza de que não podem ter horário marcado, sob pena de perderem o encanto.
Conversas são belas porque acontecem.