Em 2018, que começou há exatas duas semanas, quero sair mais de casa e desencadear, sem pressa, meu processo de ocupação particular do espaço público. Percebi que, com o passar dos anos, a segurança do ambiente doméstico, repleto de conforto e familiaridade, acaba se tornando mais do que um porto seguro, um refúgio. O estilo de vida caseiro, que não é exatamente uma novidade para mim, é um convite à introspecção, mas também uma faca de dois gumes. Ler, ouvir música e ver filmes sempre foram atividades essenciais, porém esse exílio caseiro voluntário também acarreta, inevitavelmente, uma gradual e perigosa desconexão com a vida real.
Em 2018, quero andar a pé pela cidade, observar seus movimentos mais corriqueiros, sentir a sua pulsação. Já dei início a esse projeto informal, perambulando pelas ruas do Centro de Curitiba, esse meu velho conhecido. Entre meus planos, está buscar trajetos diferentes, que me possibilitem tanto descobertas quanto reencontros. Nos derradeiros dias de 2017, descobri, por acaso, uma barbearia nova, escondida na complexa e plural Saldanha Marinho, onde há de tudo um pouco em sua extensão. Dias mais tarde, voltei ao local com meu pai e fizemos algo inédito em nossa história: aparamos nossas barbas lado a lado, em uma espécie de ritual familiar inusitado, proporcionado por minha descoberta, tão despretensiosa.
Em 2018, que começou há exatas duas semanas, quero sair mais de casa e desencadear, sem pressa, meu processo de ocupação particular do espaço público. Percebi que, com o passar dos anos, a segurança do ambiente doméstico, repleto de conforto e familiaridade, acaba se tornando mais do que um porto seguro, um refúgio.
Em 2018, pretendo sentar em bancos de praças, tomar chopes e encontrar amigos em espaços que fiquem perto das calçadas, olhar as fachadas de casas e prédios que não havia percebido e olhar nos olhos dos que passam, nem que seja por um instante, já que em nossa cultura isso não é considerado um ato invasivo. Ando precisando muito me ver, e me compreender mais a fundo, a partir da presença e da existência dos outros, ainda que sejam ilustres desconhecidos. Ser mais um relativiza nossa importância e afrouxa certas amarras de certeza que aos poucos vão nos aprisionando nas gaiolas douradas de nossos lares, ilhas de segurança emparedadas.
Em 2018, quero ver meus amigos e conhecidos de quem eu gosto, mas que acabo não encontrando com tanta frequência, sob o pretexto da falta de tempo e do excesso de tarefas. Também desejo ficar mais próximo de estranhos, ouvir e contar histórias e, quem sabe, tornar meu mundo um pouco mais diverso e plural, como a velha Saldanha Marinho.