Todos os dias, quando o Sol começa a dissolver a noite, por vezes timidamente, como quem acorda ainda mergulhado em sonhos, há sempre a promessa de um recomeço. Claro que existe a possibilidade de esse momento se traduzir em sensação de repetição: a rotina pode ser um alento para muitos, não me entendam mal! Prefiro, no entanto, olhar para o horizonte, que minuto a minuto vai ganhando novas colorações, denunciando o caráter inexorável do tempo, como uma paleta de múltiplas possibilidades, cores e texturas.
E não falo aqui de estar sempre a inventar, e sim em ensaiar novos olhares para uma mesma paisagem. Recorro a uma valorosa lição aprendida muito recentemente: dedico esse texto ao conceito de impermanência. Para quem é apegado a certezas, a ilusão daquilo que parece eterno, imutável, essa ideia pode soar assustadora, uma ameaça até. “Como assim? Se tudo muda o tempo todo, não temos nada que fique?”.
Mas será que o estático não é igualmente aterrorizante?
Compreender que, com o virar dos ponteiros do relógio, o que ocorre não é um incontornável esvaziamento da ampulheta, e sim a reafirmação de que podemos virá-la, iniciar (ou recomeçar) um novo ciclo. Os nós podem ser desatados, sim.
Compreender que, com o virar dos ponteiros do relógio, o que ocorre não é um incontornável esvaziamento da ampulheta, e sim a reafirmação de que podemos virá-la, iniciar (ou recomeçar) um novo ciclo. Os nós podem ser desatados, sim. Novos diálogos iniciados, a partir de outras perspectivas, porque temos direto à renovação de pontos de vista. E mudar não significa demolir, nem mesmo desconstruir. Pode ser apenas enxergar uma mesma situação a partir de um outro mirante. Do topo de uma montanha diferente, ainda que próxima, porque nos colocamos em movimento, um direito precioso que nos é presenteado pela vida. Precisamos nos mover, para acompanhar a grande beleza da vida.
Hoje, ao ver o dia que se anunciava tímido através das persianas do meu quarto, recebi os primeiros raios de sol como uma benção, um presente. Em uma singela epifania, um lampejo de inspiração que iluminou meu despertar, me dei conta de que não permanecer em um mesmo estágio é um trunfo. Se tudo se transforma, por que seríamos diferentes dentro dessa lógica? Mover-se é festejar a vida. Obrigado.