Uma inesperada hérnia de disco na região lombar tem me dado, ao longo das últimas semanas, algumas lições existenciais bem significativas. Impedido de andar, ou de ficar de pé por muito tempo, devido a dores intensas e à fraqueza muscular nas costas, pernas e pés, fui obrigado a diminuir o ritmo em vários sentidos. E a me dar conta, na marra, de como o corpo físico pode ser vulnerável, nos tornando frágeis e dependentes de um dia para outro.
De repente, eu me vi limitado em minha capacidade de ir e vir, direito (e necessidade) universal, porém, inacessível a tantos, por múltiplas razões, de ordem política, econômica, mas frequentemente também física. Porque nossa realidade não está absolutamente preparada para dar a todos condições de deslocamento, de acesso, seja em espaços públicos ou privados.
Uma inesperada hérnia de disco na região lombar tem me dado, ao longo das últimas semanas, algumas lições bem significativas. Impedido de andar, ou de ficar de pé por muito tempo, devido a dores intensas e à fraqueza muscular nas costas, pernas e pés, fui obrigado a diminuir o ritmo em vários sentidos.
Para inicio de conversa, Curitiba, que se orgulha tanto de ser uma cidade exemplar em vários aspectos, está bem longe de proporcionar acessibilidade a seus habitantes na maior parte dos espaços comuns a todos. As tradicionais calçadas de pedras quadradas, semelhantes a paralelepípedos, e de petit pavé, ainda que pitorescas, são verdadeiros campos minados para quem enfrenta problemas de mobilidade.
Irregulares e desniveladas, nossas vias públicas representam um convite a escorregões, tombos e tropeços até mesmo para quem está firme e saudável. Quem depende de muletas, bengalas ou de cadeiras de rodas para se deslocar, se quiserem sair de casa com alguma autonomia, enfrenta diariamente uma cidade quase desprovida de infra-estrutura. Sem falar de subir e descer de ônibus, atravessar ruas, entrar em lojas, supermercados, cinemas, restaurantes. A lista de dificuldades e obstáculos é infinita.
Aos poucos, volto ao normal, graças a muito repouso, horas de Netflix, livros, medicamentos e sessões de fisioterapia, retomando controle sobre meu corpo. Valorizo cada passo. Andar, e poder estar onde e quando quero, nunca se tornou tão valioso para mim.