No outono sinto-me mais próximo de algo que posso chamar de essência. Talvez seja a Curitiba que habita em mim, onde a luz, quando mais oblíqua, iluminando sem confrontar, torna tudo sutil, insinuado, como prefiro que a vida seja desde que percebi que a felicidade reside, na verdade, nos pequenos detalhes do cotidiano, em instantes que se espalham.
À medida em que o tempo avança, a relativizar as certezas absolutas, mais adequadas aos dias de verão, assertivos e por vezes até implacáveis, a hesitação do outono se instala com mansidão, e me reconforta. Porque favorece a subjetividade, o olhar para dentro e a contemplação das paisagens.
As folhas que mudam de cor, e se esparramam pelo chão como evidências materiais do passar dos dias, me emocionam, a denunciar uma transitoriedade, que nunca me sugere fim, mas sempre recomeço, novas possibilidades, ao pigmentar as calçadas, colorindo o olhar, mesmo quando ele busca o chão.
As folhas que mudam de cor, e se esparramam pelo chão como evidências materiais do passar dos dias, me emocionam, a denunciar uma transitoriedade, que nunca me sugere fim, mas sempre recomeço.
Outono sugere introspecção, mas, também, por ser a estação durante a qual se colhem frutos, evoca uma espécie de renascer, sem grande alarde, um tempo de profundas transformações nem sempre tão visíveis, mas essenciais para um novo florescer, que se configura como um bordado bem aos poucos, e fio a fio vai ganhando forma. E um sentido, por vezes apenas visível à distância, tão necessária para evidenciar a potência do que se sente. A vida se desdobra sem nos darmos conta disso.
Nestes dias em que a realidade parece gritar lá fora, exigindo tomadas bruscas de partidos, clamando por um maniqueísmo simplificador que nada tem a ver com profundidade ou essência, o outono chega na ponta dos pés, a tatear o caminho de volta em um bosque no fim de tarde, sem saber que os sons de galhos e folhas que forram a terra são evidências de que, a despeito de tudo, da barbárie que espreita, a vida pode ser muito bela.