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Home Crônicas Paulo Camargo

Para não esquecer Dandara

porPaulo Camargo
3 de abril de 2018
em Paulo Camargo
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Para não esquecer Dandara

Imagem: Reprodução.

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Sábado de Aleluia. Curitiba amanheceu cinzenta, com cara de poucos amigos. O céu anunciava chuvas. Nenhuma novidade para quem viu as águas de março fechando o verão com certa fúria e inclemência. Como era o primeiro fim de semana do Festival de Curitiba, os integrantes de alguns grupos teatrais que tinham apresentações ao ar livre previstas para aquele dia devem ter ficado um tanto abalados com a previsão meteorológica: fortes chances de precipitação à tarde e à noite, quando estavam previstas apresentações de algumas peças.

A Cia. Gufa de Teatro, que deveria encenar o espetáculo Eu em Ti – Retratos no palco a céu aberto das Ruínas de São Francisco, teve que se contentar com o pátio coberto do Memorial de Curitiba, um espaço mais acanhado e menos convidativo do Centro Histórico, porém não distante do local original da peça. Às 19 horas, quando a noite começava a cair, a trupe paulistana encontrou um público não muito numeroso, que foi se instalando nos degraus de pedra do centro cultural para assistir à performance, descrita por sua sinopse como “documentário”.

Alheio ao que acontecia, um catador de lixo reciclável aproximou-se da área onde o espetáculo era apresentado para esvaziar uma lixeira, àquela altura transbordando de latas, garrafas, copos descartáveis. Não parecia se dar conta do que estava acontecendo, e tampouco de que o som do que recolhia competia com a solenidade trágica do espetáculo.

Todos de macacão preto, Cíntia Fer, David Amancio, Fábio Eisner, Gustavo Assumpção, Iara Marcek tinham pela frente, naquele início de noite, uma missão tão nobre quanto dolorosa: emprestar a expressividade de seus corpos a um fantoche. Os atores revezavam-se para dar vida a uma boneca em tamanho natural que representava, na montagem, a travesti cearense Dandara do Santos, de 42 anos, morta a pauladas, espancamento e tiros no dia 15 de fevereiro de 2017 por homens do bairro onde morava. Os carrascos a exibiram em sua agonia num carrinho de mão para quem quisesse ver. Imagens do sacrifício correram o mundo, causando espanto, indignação.

Em Eu em Ti, Dandara está em cena em um momento de quase morte, de destruição em vida, e cabe aos atores expressar, sem palavras, essa imensa dor, física e emocional, sem o uso de palavras. Enquanto alternam-se na manipulação do fantoche, outros integrantes levam ao público um monóculo de plásticulo branco com uma foto de Dandara, um flagrante de sua imolação, seminua, ferida, desesperada. Outro integrante oferece aos espectadores fones de ouvido para que ouçam, em uma gravação, além de uma breve explanação do que é o espetáculo, o depoimento emocionado da mãe de Dandara sobre o que viu e viveu naquele dia, além de algo muito perturbador: os gritos bestiais dos assassinos. Era interessante ver as expressões das pessoas se transformando diante de tanta barbárie naquele início de noite de sábado.

Em meio à apresentação, algo me tocou. Alheio ao que acontecia, um catador de lixo reciclável aproximou-se da área onde o espetáculo era apresentado para esvaziar uma lixeira, àquela altura transbordando de latas, garrafas, copos descartáveis. Não parecia se dar conta do que estava acontecendo, e tampouco de que o som do que recolhia competia com a solenidade trágica do espetáculo. Até o momento em que o monóculo branco chegou a suas mãos, e depois os fones, o levando a deixar o saco do lixo que havia recolhido sobre o chão. Ele ali ficou, concentrado, até o termino de espetáculo, que aplaudiu, transformado em espectador pelo impacto da história de Dandara. O homem, talvez, a tenha compreendido melhor do que muitos de nós, que nos planejamos para estar ali, ao contrário dele.

Tags: Cíntia FerCrônicaDandara dos SantosDavid AmancioEu em Ti - RetratosFábio EisnerFestival de CuritibaGustavo AssumpçãoIara MarcekMemorial de CuritibaTeatroteatro de rua

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