Luzia é tímida, introspectiva. A habilidade com as palavras, tão evidente nos textos que escreve, sejam eles poemas ou posts para as redes sociais, parece desaparecer quando ela precisa falar. Sua voz perde volume e as mãos tremem, umedecidas pelo suor frio que parece verter de sua alma, bem mais inquieta do que aparenta. Tem vontade de virar as costas e sair correndo, sem olhar para trás. Não leva, contudo, uma vida em segredo, como a heroína da obra-prima de Autran Dourado. Compartilha suas dores, prazeres e dissabores, sem muito pudor, no espaço virtual, que lhe serve de caixa de ressonância para ecoar o que acontece em seus pensamentos, na inquietude de seu coração. Sua existência é um livro entreaberto.
Flávio se recusa a se comunicar aos gritos. Prefere se fazer ouvir pela cuidadosa escolha das palavras, sempre em letras minúsculas, que na ponta de seus dedos ganham assinatura, estilo. Assim como Luzia, não é extrovertido e prefere não chamar demais a atenção, embora esconda, sob a aparente tranquilidade de suas águas, um mar por vezes revolto, intenso na sua quietude. Avesso a exposições desnecessárias, sobretudo quando se trata de sua intimidade, vez ou outra solta o verbo. Gosta de tornar público o que pensa, seja de forma indignada ou irônica, revelando um refinado senso de humor que cultiva com certo recato, mas também visível determinação. Deixa pistas, que podem se apagar rápido demais, mas quando examinadas com atenção, são mapas.
Luzia, Flávio, Marcela e Igor existem em uma rede complexa, da qual se utilizam para falar de si mesmos, ainda que deem a impressão de ali estarem pela metade, de certa forma editados, como todos nós.
Marcela adora rir de si mesma, da própria história. Por vezes, a irreverência que marca sua personalidade parece ser uma máscara, que se assemelha muito com seu rosto de verdade, mas também oculta um bocado de dor, com a qual também faz graça, para, talvez, defender-se do mundo. Sua persona digital não é muito diferente do que dela vemos. É sua fiel tradução em frases mais curtas, em um discurso menos verborrágico, mais controlado. Ao vivo e em cores, ela fala muito, por vezes até demais, mas quase sempre é um prazer ouvi-la, porque ela faz rir com sagacidade, autoironia. Mulheres engraçadas são fascinantes.
Personagem de si mesmo, Igor parece roteirizar-se o tempo todo. Faz isso com eficiência. A mordacidade e a acidez que busca destilar meticulosamente em tudo que expressa revela uma inteligência notável, ainda mais impressionante do que o repertório do qual aparenta orgulhar-se. Brilha mais quando revela mais de si e não se apoia tanto em referências que terminam por murá-lo, como uma fortaleza. O que deveria protegê-lo acaba por distanciá-lo, ocultando sua incrível humanidade, pouco compatível com o homem que finge ser, porém também acaba por ser.
Luzia, Flávio, Marcela e Igor existem em uma rede complexa, da qual se utilizam para falar de si mesmos, ainda que deem a impressão de ali estarem pela metade, de certa forma editados, como todos nós. São representações do eu, em certa medida calculadas, mas também espontâneas, porque reveladoras em suas performáticas atuações virtuais. Têm duas vidas, uma lá e outra aqui fora, interligadas pelo fio invisível do desejar ser.