Há algo tão singelo quanto potente na imagem de um casal caminhando de mãos dadas. Mais do que mera demonstração pública de afeto, os dedos entrelaçados, o sutil roçar dos antebraços, a sincronia de dois seres que andam lado a lado, unidos por um laço físico que transcende a materialidade de seus corpos, denunciam algo desconcertante.
Enquanto o individualismo parece ditar as regras na velocidade por vezes opressiva do cotidiano, um mais um são bem mais que dois, pois há uma história que os coloca em movimento, com sutileza, para ser vista pelos olhos do mundo.
Há algo tão singelo quanto potente na imagem de um casal caminhando de mãos dadas. Mais do que mera demonstração pública de afeto, os dedos entrelaçados, o sutil roçar dos antebraços, a sincronia de dois seres que andam lado a lado, unidos por um laço físico que transcende a materialidade de seus corpos, denunciam algo desconcertante.
Sempre acreditei que o afeto, e sua exposição pública, é um ato sempre politico, porque demanda um certo despir-se de mecanismos de autodefesa e não deixa de ser um manifesto. “Estou com este alguém” é uma assertiva poderosa, contundente, se pararmos para refletir. Essa conexão, por mais circunstancial ou transitória que possa ser, subverte um tanto aquele discurso – quem nunca o ouviu? – de que nascemos e morremos sós. Não estamos condenados a esse fatalismo existencialista. Afeto é o que pode acontecer de maravilhoso entre esses dois atos supostamente solitários da vida biológica.
Duas pessoas do mesmo sexo, que resolvem ganhar, de mãos dadas, espaços públicos – como ruas, praças, parques, instituições de ensino ou shoppings – geram um signo poderoso. O amor, quando desabrocha como uma flor no asfalto, pode causar desconforto, ou até chocar alguns, por desafiar, mesmo sem essa intenção, uma ainda rígida ordem heteronormativa, ao mesmo tempo cultural, mas também moral, para os mais conservadores. Esse impacto, ouso dizer, é necessário, no entanto.
Mudanças apenas se concretizam quando a zona de conforto de uma suposta maioria é desestabilizada e transformações se fazem necessárias, quando não urgentes.
Dançar conforme a música talvez ainda seja uma forma mais segura de atravessar a vida, especialmente quando não se tem voz na escolha do repertório a ser executado pela orquestra. Mas percebe-se, basta olhar ao redor, mudanças de ritmo, ainda que tímidas em alguns ambientes, e as melodias ao poucos se tornam mais diversas, e surpreendentes. E as mãos se entrelaçam.