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Home Crônicas Paulo Camargo

A Casa Grande que nos persegue

porPaulo Camargo
21 de abril de 2015
em Paulo Camargo
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"A Casa Grande que nos persegue", crônica de Paulo Camargo. Imagem: Reprodução.

"A Casa Grande que nos persegue", crônica de Paulo Camargo. Imagem: Reprodução.

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Às vezes um filme pede mais do que uma apreciação crítica distanciada e cirúrgica. Depois de assistir ao premiado Casa Grande, longa-metragem do diretor carioca Felipe Gamarano Barbosa, em cartaz nos cinemas de Curitiba desde a última quinta-feira, fiquei pensando qual seria a melhor forma de escrever a respeito do que havia acabado de ver. Percebi que, apesar de ser uma obra cinematográfica repleta de méritos e ousadias formais que eu gostaria de discutir, havia algo de mais urgente a ser dito.

Embora não creia que tenha sido essa a intenção do cineasta, Casa Grande teve sobre mim o impacto de uma aula bem dada de Sociologia sobre o Brasil contemporâneo. Não se trata, vou logo dizendo, de uma obra didático-pedagógica. Ainda bem! O que vi na tela foi uma discussão matizada, organicamente integrada à narrativa, sobre o país que somos, e nem sempre estamos muito dispostos a encarar de frente, seja na vida real ou na ficção.

O plano que abre o filme é emblemático. A câmera, estática, nos apresenta um homem de idade imprecisa que sai de uma jacuzzi, instalada ao lado da vistosa piscina de uma mansão no bairro da Barra de Tijuca, no Rio de Janeiro, cercada de palmeiras. O personagem entra na casa,  começa a apagar as luzes cômodo a cômodo, e desliga a música, que parece audível em todo o imóvel (mais tarde descobriremos, de fato, ser esse o caso).

Mesmo que isso não nos seja dito já nessa sequência inicial, podemos intuir, de alguma forma, que o personagem é o senhor do castelo. O que ainda não sabemos e o filme aos poucos irá nos revelar é que seu pequeno grande reino começa a ruir, ainda que ele insista em mantê-lo como o símbolo de seu triunfo, de sua ascensão social. É a sua Casa Grande, com todas as implicações sociológicas que essa expressão, tão arraigada à história brasileira, possa sugerir.

O tal homem se chama Hugo (Marcello Novaes), é um executivo do mercado financeiro desempregado, e há muitos meses vem sangrando suas economias, tentando manter um padrão de vida que já não corresponde à verdade dos fatos. Ao se dar conta de que sua fachada de homem vitorioso que se fez do nada começa a desmoronar, ele deixa entrever, por entre as rachaduras dessa imagem de êxito e fortuna, toda a sua vulnerabilidade – e do mundo de aparências que ele representa.

“Casa Grande, embora não escape de ser um filme sobre a luta de classes em um país com fossos sociais ainda muito profundos, não é maniqueísta, apesar de, à primeira leitura, aparentemente sugerir que os pobres são mais honestos e sinceros do que os ricos.”

Hugo não é um senhor de engenho,  filho de uma família tradicional. Veio de baixo, como ele próprio admite a certa altura do enredo, em um rasgo de fúria. Mas ele emula códigos sociais da classe dominante: ele e a esposa, a professora de francês Sônia (Suzana Pires), têm duas empregadas e um motorista, Severino (Gentil Cordeiro), que trabalha com a família há dez anos e serve para o filho do casal, Jean (o estreante Thales Cavalcanti), como uma espécie de figura paterna. Com ele, o adolescente se aconselha, fala sobre namoro, sexualidade, assuntos que não ousa tratar com o pai, mais preocupado em manter sua imagem de sucesso a qualquer custo.

Jean estuda no Colégio de São Bento, tradicional instituição de ensino exclusivamente para meninos situada no Centro do Rio. É quando o pai já não tem mais recursos para arcar com o salário de Severino que o garoto passa a ir à escola de ônibus, e aos poucos vai descobrindo todo um mundo de desigualdades e contrastes, do qual foi protegido desde pequeno. Esse contato aos poucos denuncia a ele a artificialidade da vida superprotegida na qual está confinado desde menino. O abalo é sísmico.

É interessante pensar que, à medida em que o mundo do pai parece desabar, o do filho, apesar de sofrer grande impacto, passa a se reconfigurar. Ele conhece uma garota, estudante de um colégio público, por quem se apaixona e que aos poucos o apresenta a novos signos, a outros valores: ela é mais madura, politizada e experiente do que ele, apesar de tão jovem quanto. O máximo de intimidade que Jean tem com mulheres é a ambígua relação com uma das empregadas de sua casa, em uma releitura da velha história do “sinhozinho” que, comodamente, busca iniciar sua vida sexual nos braços de uma serviçal, sob a proteção dos muros da mansão de sua família.

Casa Grande, embora não escape de ser um filme sobre a luta de classes em um país com fossos sociais ainda profundos, não é maniqueísta, apesar de, à primeira leitura, aparentemente sugerir que os pobres são mais honestos e sinceros do que os ricos. Um segundo olhar, mais atento, revela que essas impressões redutoras e simplificadoras estão apenas na superfície da trama, que revela ter bem mais a dizer.

A bela imagem final, em que vemos Jean em uma posição muito diferente daquela em que vimos seu pai na sequencia de abertura, sugere ao mesmo tempo liberdade e um vasto horizonte de possibilidades que se abre diante de uma nova geração, para quem a certeza de uma Casa Grande, espera-se, se torne um dia seja bem menos importante, ou sedutora.

Tags: Casa GrandeFelipe Gamarano Barbosaluta de classesMarcello NovaesSuzana Pires

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