Tente imaginar a cena. A porta do provador de uma loja de roupas se abre. De dentro sai, empertigado como um pavão, um sujeito jovem, de torso nu, bronzeado e musculoso. Sedento pela aprovação da namorada, ele desfila, com os pés descalços e o traseiro empinado, um par de jeans desbotados que custam uma verdadeira fortuna para terem a aparência de usados há uma década. Ele pergunta à moça se as calças lhe caem bem, buscando sua própria imagem, de costas, em um espelho, à qual responde com um silêncio satisfeito e vaidoso, no melhor estilo “Sou lindo mesmo”. A garota, com os olhos brilhando, sorri embevecida, como uma mãe que vê seu bebê dar os primeiros passos. O negócio está fechado e a compra, feita.
Há uma, duas décadas, a situação descrita acima seria no mínimo incomum e, aos olhos do machismo imperante há séculos nas terras brasileiras, considerada esquisita e até mesmo condenável. O corriqueiro era ver homens, algo entediados, dando seus pitacos, do tipo “está decotado demais”, enquanto as mulheres gastavam horas escolhendo e provando roupas, algo que também começa a cair em desuso. Acontece que o mundo já não é mais o mesmo: a vaidade masculina saiu do armário. Cristiano Ronaldo que o diga! O craque português talvez seja hoje a personificação de um certo “novo homem”, que, independentemente da orientação sexual, consegue ser muitos em um, ao mesmo tempo. Dândi, Tarzan, Clark Kent e Superman.
Mas tudo tem seu limite. Basta uma visita a qualquer academia de musculação para perceber que muitos de seus frequentadores mais assíduos não passam horas malhando e suando apenas em nome de uma vida mais saudável. Querem, acima de tudo, um corpo sarado e definido, que hoje em dia está valendo tanto quanto um carro do ano – ou até mais. Afinal de contas, vivemos tempos nos quais o culto à imagem atingiu proporções assustadoras. É a ditadura da embalagem em detrimento do conteúdo.
Acontece que o mundo já não é mais o mesmo: a vaidade masculina saiu do armário. Cristiano Ronaldo que o diga! O craque português talvez seja hoje a personificação de um certo ‘novo homem’, que, independentemente de sua orientação sexual, consegue ser muitos em um, ao mesmo tempo. Dândi, Tarzan, Clark Kent e Superman.
Muitos marmanjos andam falando entre si de minilipoaspiração, percentual de gordura no abdome, drenagem linfática e tratamento contra estrias com a mesma desenvoltura com que antes abordavam assuntos masculinos clássicos, como automóveis, futebol e mulheres. Quer fazer um teste? Vá a um shopping center e fique de tocaia, em um dos corredores do centro de compras. A quantidade de brucutus malhados que circulam cheios de sacolas de compras hoje em dia se iguala ao de representantes do sexo feminino. E a mídia já se deu conta disso, bombardeando seu público-alvo com anúncios e comerciais de perfumes, tênis turbinados, equipamentos de ginástica, suplementos alimentares e produtos de beleza.
Esse fenômeno, saudável para a economia, pode ser ainda melhor para a sociedade, contanto que não se limite à superficialidade da hipervalorização das aparências. A não ser que os homens também estejam querendo desfrutar de preconceitos que há séculos perseguem as mulheres, provando que qualidades como beleza e inteligência são mesmo incompatíveis. Se for essa a escolha, boa sorte. Caso contrário, sempre sobra espaço para um bom livro na sacola de compras. E ler não engorda.