A nostalgia é quase sempre uma tentação, possibilidade de refúgio para quem tem dificuldades na lida com o presente. É ilusória, porque fruto de uma maquinação cerebral perversa: o passado, esse mar sem fim, é recriado para que se torne um lugar melhor, onde um dia já fomos (ou acreditamos termos sido) mais felizes, a vida era mais colorida, segura, menos ameaçadora.
Como está fora do alcance, e sujeito à memória, essa senhora caprichosa, cheia de vontades, e dotada de uma incansável imaginação criativa, quando não delirante, o passado corre o risco de ser constantemente reinventado. Querem nos levar de volta a ele, porque lá, nessa instância distante, quando não remota, a realidade torna-se modelável, podendo ser esculpida à conveniência de quem evoca esses tempos de suposta bem-aventurança em nome de um delírio discursivo. Fique atento, portanto!
Como está fora do alcance, e sujeito à memória, essa senhora caprichosa, cheia de vontades, e dotada de uma incansável imaginação criativa, quando não delirante, o passado corre o risco de ser constantemente reinventado. Querem nos levar de volta a ele, porque lá, nessa instância distante, quando não remota, a realidade torna-se modelável, podendo ser esculpida à conveniência de quem evoca esses tempos de suposta bem-aventurança em nome de um delírio discursivo.
A única solução para enfrentar, e se proteger, desse canto de sereia, é fincar os pés no presente. Olhar ao redor, e perceber o privilégio de, sim, aprender com o passado, mas sem, a bordo de uma máquina do tempo tresloucada, mexer com os ponteiros do relógio, e buscar um mundo que, literalmente, não existe mais. E não é o que imaginamos ter sido, porque está sujeito ao discurso, esse senhor ardiloso e, muitas vezes autoritário, com quem a memória mantém um atribulado caso de amor, senão abusivo.
Prefiro, assim, abrir as cortinas e mirar o futuro, como uma estrada que começa a ser trilhada a partir da soleira da minha porta. Não saber onde é que vai dar esse chamado faz a vida tão mais bela, e instigante.
Para que, enfim, voltar?