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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

Cenas de uma cena literária

porYuri Al'Hanati
18 de novembro de 2019
em Yuri Al'Hanati
A A
Cenas de uma cena literária, crônica de Yuri Al'Hanati

Imagem: Reprodução.

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Cenas literárias foram feitas para serem pequenas. Tanto é que panelinhas se formam em cidades muito grandes, e escritores brigam entre si em artigos de opinião nos jornais, acusando outros escritores de serem oportunistas dinheiristas capitalistas em função de determinado evento ou coletânea de bom cachê. Na verdade o que o autor do texto frequentemente quer dizer é “que droga que eu não fui chamado para esse evento ou coletânea de bom cachê, malditos sejam todos”.

Escritores brigam para vender seus livros e serem chamados por um curador para algum evento ou coletânea de cachê bom, mas pode acontecer também de brigarem para serem chamados para algum evento ou coletânea que não tem cachê nenhum, mas que pelo menos é mais uma publicação no currículo ou mais uma viagem bancada por alguma instituição. Não tem cachê, mas pelo menos ele pode vender dez ou vinte livros sem maiores dificuldades entre o público do evento.

Cenas literárias foram feitas para serem grandes. Tanto é que escritores de cidades pequenas abraçam a todos que produzem algum tipo de literatura, da mais besta à mais promissora.

Escritores brigam por causa dessas coisas, mas não saem na mão com ninguém. Eles frequentemente dizem que é porque violência é coisa de fascista, mas a maioria tem medo de brigar mesmo. Eivados de sentimentos ruins, o ressentimento se plasma em picuinhas de sempre, tramadas com outros escritores amigos, que ajudam a destilar veneno contra outros escritores inimigos. E se encontram um rival no bar, fingem que não o veem, que é melhor assim. Depois podem voltar para alguma área segura para continuar com as picuinhas de sempre. Reclamam da falta de dinheiro, da falta de respeito, da falta de leitores e da falta de convites. A vida é só ausência.

Cenas literárias foram feitas para serem grandes. Tanto é que escritores de cidades pequenas abraçam a todos que produzem algum tipo de literatura, da mais besta à mais promissora. Eles se organizam em pequenos coletivos, editam uma revista juntos, frequentam os lançamentos uns dos outros e promovem uma feirinha, para mostrar ao público da cidade e quem mais aparecer de fora o que é que há em termos de literatura na cidade.

São grandes, as cenas literárias. Por isso extrapolam barreiras de município e estado, e frequentemente escritores integram editoras pequenas do sul, do nordeste, assinam curadorias Brasil afora, escrevem orelhas, apresentações, celebram uns aos outros com resenhas, elogios, brindes com cerveja em copos americanos, leituras prévias, conselhos, um colchão e uma toalha para recebê-los em suas cidades. Quando são convidados para algum evento, com cachê ou não, celebram a possibilidade de verem seus pares distantes, bolar novos projetos, livros escritos a mais de uma mão. Ofendem-se com os detratores, solidarizam na crítica negativa, no prêmio que escapa pelos dedos, no calote do pagamento atrasado. Tentam puxar os pares para suas editoras, e cada resgate para o aquário grande tem uma sensação de obra em andamento, uma construção sólida rumo a uma cena literária maior. A vida é só festa.

Cenas literárias foram feitas para serem modestas. Os grandes escritores deixam de frequentá-las. A esses interessam os programas de TV, a multidão das bienais, as adaptações para o cinema e TV, as parcerias com músicos, as viagens para o exterior a convite de universidades, os grandes cachês, as edições comemorativas de suas obras antigas e os grandes prêmios de seu idioma. Os escritores modestos, que na verdade são os escritores sem necessidade de adjetivação, pois são a imensa maioria, comemoram cada bolsa de criação literária, residência, prêmio, programa de renúncia fiscal, cada resenha, elogio, e cada leitor, com o tempo, se torna um conhecido ou mesmo um amigo próximo.

Imprimem duzentos, quinhentos livros, mil ou dois mil quando estão otimistas, certos de que nunca serão citados pela Fátima Bernardes ou pelo Jô Soares. Vendem os próprios livros que compram com desconto do site da editora para poder lucrar alguma coisa além do protocolar 10% do preço de capa, por isso sempre andam com ecobags repletas do próprio livro. Lisonjeiam-se fácil, envaidecidos pela centelha de atenção que um mundo absurdamente tecnológico resolve lhes dedicar. Poderiam se recolher amargurados ante o projeto artístico subaproveitado, mas reconhecem que essa coqueluche da literatura é inaplacável. Por isso brindam um brinde baixinho. A vida é só vitória.

Tags: Artebolsacena literáriacoletivoCrônicacuradoriaEventofestaLiteraturapicuinha

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