Li dia desses um colunista da Época se debruçando sobre o fenômeno das palestras motivacionais promovidas pela dupla de monges carecas Coen e Karnal. Dizia ele, em resumo, que a jornalista convertida ao budismo e o professor de História com gosto por ternos azuis convertem anos de leitura e estudos em minutos de sabedoria vendáveis, platitudes para motivar os já convertidos ao espírito de seus discursos. Que autoajuda e palestra motivacional é tudo picaretagem, pronto.
Não existe, ao longo de todo o texto, nada que qualquer leitor minimamente esclarecido não saiba – o que talvez faça do colunista um pregador para convertidos ele mesmo – mas o tema pede uma abordagem diferente. Por exemplo, aquilo que mais nos custa admitir: que a cultura anti-intelectualista brasileira (nada exclusiva, alguns muitos países partilham de nosso gosto) deixa o cargo de palestrante motivacional/filósofo pop/monge careca como uma das carreiras mais rentáveis para intelectuais bem formados. Que o verniz com que o grande artista esmalta seu fracasso de público nunca escondeu sua carência por validação (sou testemunha de inúmeros ataques de pelanca dados por beletristas renomados no Facebook, confie em mim) e que muitos escritores ganham a vida não da venda de livros, mas de entreter plateias no crescente circuito de feiras literárias com comentários espirituosos e piadas sem graça, nos quais se apoia na esperança de futuros convites. Isso para começo de conversa.
Dizer o óbvio dá dinheiro, tá aí a referida coluna que gastou nove parágrafos para chutar o cachorro morto da autoajuda que não me deixa mentir, e talvez o sonho molhado de todo artista que se proponha a grandes feitos seja o luxo da reclusão que não diminui em nada a multidão de ascetas a lhes babar o ovo incondicionalmente. Daí o ultraje de testemunhar um acadêmico que desceu da torre de mármore para construir uma carreira de rockstar num país de semianalfabetos.
Li dia desses um colunista da Época se debruçando sobre o fenômeno das palestras motivacionais promovidas pela dupla de monges carecas Coen e Karnal. Dizia ele, em resumo, que a jornalista convertida ao budismo e o professor de História com gosto por ternos azuis convertem anos de leitura e estudos em minutos de sabedoria vendáveis, platitudes para motivar os já convertidos ao espírito de seus discursos.
Fãs se acotovelando, auditórios lotados, milhares de livros vendidos, cachês exorbitantes que nem o mais talentoso mico de feira literária seria capaz de pedir, suas frases medíocres sendo replicadas em redes sociais, toda a promiscuidade midiática que não combina com uma carreira de escritor sério, enfim. O verdadeiro intelectual deve-se ater a viver de dar aulas, oficinas, traduções, palestras para pouca gente e, se possível, venda de livros, nessa ordem de importância. E jamais construir pontes entre a arte e o cotidiano. Nada mais e nada menos. Imagine só viver mais de vender livros e dar palestras? Inadmissível.