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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

Mini-infarto

porYuri Al'Hanati
19 de junho de 2017
em Yuri Al'Hanati
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Crônica Mini-infarto
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O cartunista Gomez produziu certa vez um livrinho muito simpático chamado Mini-Infartos. Ele se propunha a retratar aqueles momentos em que o coração pula uma batida, seja diante de uma situação embaraçosa, pequenos medos ou mesmo uma monstruosa atrapalhada. Apalpar o bolso e não sentir o telefone, quebrar o brinquedo do coleguinha, entupir uma privada na casa alheia e coisas assim.

Tenho um gosto por esse livro por uma suscetibilidade aguçada para esse tipo de reação que manifesto desde cedo, na mesma medida em que tenho propensão a elas e igual capacidade de armazenar momentos constrangedores na memória por um bom tempo. De maneira que qualquer tentativa de amenizar meu desespero e constrangimento por parte de pessoas próximas a mim é algo que me bota, como diria o poeta, comovido como o diabo. Noves fora o conhaque e o luar, transformo momentos péssimos em momentos extremamente felizes com uma pequena ajuda dos amigos.

Eu estava feliz como um gato no sol na minha última noite em Tbilisi. Meus anfitriões, os Meparishvilis, não me pouparam de jantares pantagruélicos e garrafões e mais garrafões de vinho branco caseiro georgiano em nossas noites musicais (algo sobre a hospitalidade desse povo deverá ser escrito em breve). Emendando um besame mucho com um o sole mio e vendo tudo dobrado, inventei de tirar uma foto da família para levar de recordação. Foi eu levantar da cadeira para apoiar a câmera em alguma superfície e em um segundo a bagunça estava armada: chutei o garrafão de vinho que estava ao pé da mesa, derrubando cerca de um terço no chão.

O suor frio que desceu a espinha, o calor em volta da cabeça, a falta de uma reação eficaz por causa da embriaguez avançada e o desespero no olhar fez de mim um bobão inoperante digno de um Kaurismäkki.

O suor frio que desceu a espinha, o calor em volta da cabeça, a falta de uma reação eficaz por causa da embriaguez avançada e o desespero no olhar fez de mim um bobão inoperante digno de um Kaurismäkki. Arruinei a noite, desperdicei vinho, sujei a casa dessas pessoas carinhosas, a catástrofe. O mini-infarto.

De repente surge um pano, alguém limpa o chão mais rápido do que eu poderia reagir. Olho para meus amigos e eles não estão nervosos. Estão achando graça do meu desespero e sorrindo, felizes, pela minha preocupação. Irakli, o patriarca, um senhor imenso que jamais sorri e que nem por isso é menos simpático, começa cantarolar olhando nos meus olhos: “don’t worry, be happy”. Alguém começa a estalar os dedos no compasso da música e uma vocalização surge no ar para acompanhar a melodia. Todos estão olhando para o bobão de pé com o olhar perdido e entoando um Bobby McFerrin para que ele se acalmasse.

Sentei, ouvi a música em minha homenagem, senti o coração voltando ao normal, o jantar voltando ao normal. Senti minha presença se tornando menos incômoda a cada segundo. Mais pro fim da noite, tirei a foto que queria, eventualmente, com cuidado por onde passava. Poderia ser uma das piores lembranças da Geórgia. Mas foi uma das melhores.

Tags: atrapalhadabobby mcferrinCrônicageorgiagomezjantarmini infartotbilisivinho

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