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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

Morrer melhor

porYuri Al'Hanati
3 de junho de 2019
em Yuri Al'Hanati
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Morrer melhor, crônica de Yuri Al'Hanati

Imagem: Pixabay/Reprodução.

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Tudo o que fazemos, fazemos para morrer melhor. Falo aqui não só do morrer melhor no âmbito da razão prática – trocar os melhores anos da sua vida por moeda corrente a fim de uma decadência corpórea bem cuidada -, mas também em termos teleológicos. Cada ação destinada a criar um sentido para a existência é uma operação complexa sobre o tempo e a própria mortalidade. Acumula-se obra na esperança de que o peso da vida desequilibre o fiel que coloca na morte a importância que lhe atribuímos. Escrevo a palavra obra em respeito a diversidade de meios para o fim, se, como disse o conde, há mesmo tantas formas de pensar quanto há cabeças. Uma carreira de sucesso, uma entrega às urgências da alma, uma avalanche de momentos bem aproveitados ou mesmo a própria descendência são algumas obras possíveis que colaboram para o peito aberto ante o derradeiro nunca mais do corvo de Poe.

Viver para melhor morrer é o que se faz, mesmo que de forma inconsciente. Um horizonte ilusório, é claro, poucos poderão se conformar com a vida que viveram por completo. Se, por um lado, trata-se de uma tarefa absurda, como escreveu Camus em seus tratados sobre o assunto, por outro, a vida plena é um Deus possível, no sentido de que é em sua busca que nos criamos, nos conectamos e, acima de tudo, que alcançamos nossa própria e diminuta deidade interior. A vida – não meramente a existência – é uma religião mínima, e viver é uma liturgia discreta, mas poderosa, porque forja no presente as armas contra Hades. O nada desvelado é o final de todos, mas que reconfortante parece ser para quem constrói seu projeto chocá-lo com esse nada. Ou assim se espera.

Viver para melhor morrer é o que se faz, mesmo que de forma inconsciente. Um horizonte ilusório, é claro, poucos poderão se conformar com a vida que viveram por completo.

Este viver de que falei, essa pequena liturgia, é apenas uma forma de projeto. A distinção mais evidente deste é aquela vida que, pelo contrário, trata de privar o corpo e a mente de todas as experiências que se aproximem do humano para instrumentalizar o divino em si e operar sobre o metafísico mediante força de vontade e persistência. Falo da vida monástica e suas variáveis. Nenhuma novidade aqui, os hindus enxergam pelo menos mais quatro caminhos além desses dois, mas é especialmente importante notar este percurso em específico, pois evidencia mais do que qualquer outro a seriedade humana diante da finitude.

Motivações à parte, pois não interessa saber se é o medo ou a ambição que mantém um vivente alheio a tudo o que pulsa, a obstinação dessa batalha é uma pista para o caráter beligerante da alma humana, aqui disposta a travar uma contenda dupla: luta-se contra a vida para poder lutar melhor contra a morte. De onde surge tal coragem e tal confiança? Como não encher o coração de admiração triste ao ver as marcas da idade atingirem o rosto de um sacerdote? Os limites entre vocação e infortúnio parecem ser calculados na velocidade da luz por todas as cabeças que se proporem a pesar suas escolhas diante de outro caminho possível.

Poucos têm o tempo de Sidarta para se decidirem por fim pelo caminho do rio depois de visitar suas duas margens distintas. De modo que resta o problema da morte e uma difusa noção de que nossa preparação para a cortina final é uma escolha suspensa, acima de nossa própria experiência. Os braços esticados para o alto a tatear com a ponta dos dedos os humanos que poderemos ser. Acumula-se pores do sol, litros de vinho, terços rezados, países visitados, títulos, livros, discos, filhos, o que for preciso. Que morreremos, morreremos.

Tags: CrônicaexistênciafinitudemorrermorteSidarta

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