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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

O dia em que a década de 90 acabou

porYuri Al'Hanati
11 de dezembro de 2017
em Yuri Al'Hanati
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Ilustração: Fetrik Vilius.

Ilustração: Fetrik Vilius.

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A década de 90 acabou em janeiro de 2001. É claro que não estou falando em termos cronológicos.

Eu estava lá, no dia em que a década de 90 acabou. Foi no dia 21 de janeiro de 2001. A Cidade do Rock estava lotada para o último dia do Rock in Rio, uma experiência de festivais que viria a ser consolidada nos próximos anos com uma profusão e periodicidade até então inéditas no país. O headliner do festival era o Red Hot Chili Peppers, mas também haveríamos de ver Silverchair, Deftones e algumas outras bandas nacionais que não eram necessariamente importantes, mas calharam de viver o auge naquele momento.

O fim da década de 90 aconteceu no final da tarde daquele 21 de janeiro de 2001. A banda O Surto, uma corruptela cearense do estilo santista do Charlie Brown Jr., estava se apresentando no palco principal do festival, um momento histórico para o quarteto. Foi quando eles acharam que seria uma boa fazer uma espécie de cover-paródia da música de trabalho do Red Hot Chili Peppers. O refrão de “Californication” foi cantado como “Triste Mas Eu Não Me Queixo”, seguida de uma letra sobre adversidades na vida do eu-lírico da canção.

Eu estava lá, no dia em que a década de 90 acabou. Foi no dia 21 de janeiro de 2001. A Cidade do Rock estava lotada para o último dia do Rock in Rio.

Foi como acordar de um sonho. A multidão da qual eu fazia parte assistiu estarrecida e constrangida àquela desnecessidade. O Surto ainda representava parte da irreverência da década de 90, mas naquele momento a irreverência se viu nua e eximida da tolerância daquele período de livres expressões musicais, que abrigou em um curto espaço de tempo bandas como Mamonas Assassinas, Baba Cósmica, e Virgulóides, deu vazão ao manifesto Caranguejos com Cérebro do movimento Manguebeat, gerou debates sobre liberdade de expressão com o Planet Hemp e conciliou diversão e crítica social com O Rappa. Era possível ver o memento mori varrendo aqueles milhares de pessoas como um tsunami cósmico que desalinhou os planetas novamente. Aquela possibilidade estética da banda irreverente morreu ali, e, quando mais tarde surgiu na cena nacional Os Móveis Coloniais Acaju as pessoas já estavam todas nervosas e desconfiadas.

George W. Bush estava há poucos dias no poder, e o ataque às Torres Gêmeas em Nova York validaria o tom de seriedade dos próximos anos. Mas naquela noite todos voltamos para casa desanimados com a oficina de palhaços, com a banda de garagem, com as camisas de flanela e com os chapéus cata ovo. Estávamos burros e sérios. Não mais toleraríamos É o Tchan! lançando discos esterotipando outras culturas, ou o teutônico Lou Bega nos reapresentando ao mambo e à salsa, ou novelas com o Murilo Benício fazendo dois papéis ao mesmo tempo. Estávamos exauridos emocionalmente da década que nos deu liberdade artística às custas de nossa própria ignorância. Precisávamos nos sentir menos besta, e compramos O Bloco do Eu Sozinho como se aquilo fosse resolver todos os nossos problemas de analfabetismo cultural (não resolveu).

Voltaríamos a estudar, não votaríamos mais nos mesmos, assinaríamos TV a cabo e tentaríamos ser mais bem informados musicalmente com a ajuda do Napster. Chega de calças cargo e Austin Powers. Desmontaríamos o paradigma estético vigente e seríamos civilizados como os britânicos. Uma geração inteira caiu aos pés de embusteiros como Oasis e The Strokes como se pedissem abrigo político e salvaguarda contra a possibilidade de uma banda como O Surto repetir a atrocidade daquele 21 de janeiro de 2001. Nunca mais.

Tags: Crônicadécada de 90irreverêncialiberdade artísticaMamonas Assassinaso surtoOasisparadigma artísticoRock In Riostrokesvirgulóides

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