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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

O sonho azeri de viver em uma cidade com uma cratera

porYuri Al'Hanati
27 de junho de 2016
em Yuri Al'Hanati
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"O sonho azeri de viver em uma cidade com uma cratera", crônica de Yuri Al'Hanati.

Imagem: Reprodução.

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Nessa última semana, Curitiba ganhou uma cratera, aberta de uma hora pra outra na Praça Carlos Gomes. Eu, que a princípio olhei para aquele acidente geográfico apenas como mais uma das intermináveis catástrofes urbanas, me vi subitamente tomado por uma ternura grande e inexplicável. A cratera da Carlos Gomes foi a melhor coisa que aconteceu em Curitiba para mim esse ano. Talvez consiga explicar o porquê, talvez não.

Primeiramente, ninguém se feriu no acontecimento, e nenhum prédio foi objetivamente danificado. O buraco no concreto se abriu no meio de um dos poucos lugares abertos da cidade, e revelou um rio debaixo de sua boca. O Rio Ivo, que foi encanado na década de 90 pelo governo Lerner, e que mostrou sua bravura indômita, talvez seja o mais próximo que Curitiba possa ter de um Yanar Dag, o buraco de fogo de que o Azerbaijão tanto se jacta de possuir. Temos aqui um buraco de água, gerado naturalmente pelo desgaste do tempo, algo bonito e selvagem em meio à organização capenga do centro da capital.

Políticos se dividiriam entre manter o buraco ou tapar o buraco, e algum vereador, um Paulo da Cratera da vida, sairia em nossa defesa, mas algum político conservador angariaria os votos dos haters da cratera.

Não queria que tapassem nunca aquela cratera. Fiquei imaginando como seria a vida na urbe com o buraco da Carlos Gomes como uma presença constante. Seria, antes de tudo, um novo ponto de encontro de rebeldes e poetas, como o Cavalo Babão alguns quilômetros mais para frente. Acredito que, com o tempo, Curitiba passaria a ter orgulho de seu acidente, como hoje  a Falha de San Andreas, a Torre Inclinada de Pisa, o Vesúvio e o próprio Yanar Dag geram receita e identidade para os habitantes de seu entorno.

Políticos se dividiriam entre manter o buraco ou tapar o buraco, e algum vereador, um Paulo da Cratera da vida, sairia em nossa defesa, mas algum político conservador angariaria os votos dos haters da cratera. A Virada Cultural iria contar com o Palco Cratera, na Praça Carlos Gomes, com uma programação voltada ao underground local. Haveria um ou outro maluco que se refrescaria nas águas barrentas do Ivo em algum dia de calor, mas no âmbito virtual, a página da Prefeitura de Curitiba no Facebook colocaria capivaras aproveitando nossa cratera, nosso orgulho. O jornal local faria link ao vivo ao lado da cratera na hora do almoço, entrevistando pessoas sobre qualquer bobagem, e aos poucos, o buracão da praça se tornaria um ícone da cidade, junto com o Museu do Olho, a Ópera de Arame e o Jardim Botânico. A vida seria boa com a nossa cratera.

Infelizmente, quando esse texto for publicado, a obra para cobrir o buraco da Carlos Gomes já estará se encaminhando para seu fim. A cratera deixará de existir, a praça voltará a ser apenas mais um lugar da cidade a ser evitado à noite, os mais velhos sentirão algum tipo de medo de pisar na pavimentação de pedras portuguesas onde outrora existia uma cratera, talvez receando que ela se revelasse mais uma vez. Enfim, a monotonia de se viver em uma cidade sem crateras. O fim do sonho azeri de se morar perto de um buraco famoso. A normalidade enfadonha, quiçá fatal em tempos gelados.

Foi rápido. Não deu tempo de se acostumar à cratera, não deu tempo de ocupar a cratera, lançar uma hashtag de apelo popular, um tipo de #vempracratera ou algo assim. Mas algo ainda vai acontecer no meu coração todas as vezes em que cruzar a José Loureiro e a Monsenhor Celso. A verdadeira cratera vive e pulsa dentro do peito. Meu coração é inteiro uma cratera.

Tags: acidente geográficoburacocarlos gomescrateraCrônicaCuritibafalha de san adreasyanar dag

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