“Você vai é sentar, fumar um baseado e ficar nessa de ‘ser ou não ser’. Não fode peão!”. Assim meu pai me parabenizou pela aprovação no vestibular para filosofia na UFPR no processo seletivo de 2017/2018. Nada mais natural do que receber o diletantismo do filho underachiever em uma fase crucial da vida em que nada está muito definido com esse entusiasmo. Resolvi prestar vestibular depois de sentir a estagnação intelectual de um trabalho mecânico em uma empresa de economia mista, em que a última vez que me meti a falar sobre algo minimamente cultural – a consagração de Bob Dylan no Nobel – terminei o dia explicando o que era o prêmio Nobel e quem era Bob Dylan.
Vivemos uma época em que o triunfo intelectual não passa de um arco-íris inutilmente perseguido. A realidade não comporta pensadores, muito embora dê sinais de que eles seriam bem-vindos.
É claro que uma aprovação no curso de filosofia não é algo a ser comemorado por pai nenhum (as mães sim, idealistas e incondicionalmente orgulhosas da prole, podem se extasiar. Principalmente a minha que se formou no mesmo curso). Vivemos uma época em que o triunfo intelectual não passa de um arco-íris inutilmente perseguido. A realidade não comporta pensadores, muito embora dê sinais de que eles seriam bem-vindos. Obtusidade e condescendência continuam a ser qualidades infinitamente mais valorizadas, e retorno financeiro é tudo o que importa quando investir alguns anos da vida em determinada formação se mostra materialmente duvidoso.
Felizmente a época da aprovação parental como condição indispensável para qualquer passo na estrada da vida ficou para trás, e posso ser considerado um otimista de pensar que algum tipo de diversão me espera nos próximos anos. Não sei o que vai acontecer, pra falar bem a verdade. Mas não é disso que é feito essa ciência?