Fiz trinta anos ontem, e pensei em fazer um texto sobre isso. Sobre como aos dezesseis é permitido votar, aos dezoito, beber, e aos trinta, abandonar de vez a vaga ideia de imortalidade e leveza que se pode guardar até então com tranquilidade e despreocupação. Mas aí pensei que talvez trinta anos não signifique nada. Que os trinta anos podem soar para quem tem quarenta como os vinte soam para quem tem trinta: uma dezena fechada que inspira muito mais preocupação e responsabilidade do que de fato suporta.
Os quarenta podem ser os novos trinta, e os trinta os novos vinte, já que chego até aqui abrindo um abismo discrepante entre minha imagem atual e a imagem idealizada de mim mesmo adulto que fiz quando era criança.
Talvez trinta anos não signifique nada. Talvez falar sobre os trinta signifique menos ainda. Dar importância para certas idades aborrece quem já as teve e preocupa quem ainda não as têm. Pode ser que os trinta oficialize a vida adulta em termos absolutos, mas sei não, sei não. Os quarenta podem ser os novos trinta, e os trinta os novos vinte, já que chego até aqui abrindo um abismo discrepante entre minha imagem atual e a imagem idealizada de mim mesmo adulto que fiz quando era criança.
Imaginava me tornar como meu pai, camisa social de manga curta para dentro da calça, molho de chaves pendurado na cintura, um revólver na gaveta, uma caixa de ferramentas de respeito, carro, filhos, mensalidades de escola para pagar e todo o resto do pacote. Ao invés disso, me tornei uma espécie de adulto com pouca responsabilidade. Sem filhos, sem veículos, sem maiores projetos. Um passo além do Kevin Spacey no Beleza Americana pedindo um cargo de chapeiro no McDonald’s aos quarenta e tantos anos. Se é geracional, sintomático ou meramente infantilidade isolada, pouco importa. Tentei fugir dos clichês adultos que me deprimiam quando criança e consegui evitar a maioria deles com relativo sucesso. Se não posso fazer isso por mim não vejo muito sentido em todo o resto.
Aliás, de todo o resto só ouvi falar. Que o metabolismo desacelera, que a decrepitude física começa a mostrar a que veio, que a juventude já lhe sorri de uma distância significativa, que a vida começa a se tornar mais prosaica. Mas, de novo, não dá pra encarar tudo como imutável. Mudar é tudo o que nos resta.