• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Literatura

Mia Couto desconsegue não falar sobre pessoas

Mia Couto se descreveu mais próximo de gatos que "das gentes", e sua obra é um diálogo sobre "gentes".

porWalter Bach
17 de setembro de 2015
em Literatura
A A
Mia Couto desconsegue não falar sobre pessoas

Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Há uma história de um menino que falava pouco, se entendia mais com palavras escritas, e se achava mais próximo dos gatos que “das gentes”. Uma versão dessa anedota diz que ele se batizou, embora uma pequena variação conte que o apelido veio de um irmão. Se não fosse essa pequena história teríamos apenas outro nome nas prateleiras e mídias, mas não aquele pelo qual conhecemos o senhor Antônio Emílio Leite Couto, conhecido por Mia Couto.

A origem desse apelido ganhado no exercício da infância e transformado em nome de uso diário dialoga com a sua produção literária. Mais do que soar algo doce ou talvez fantasiado, se olhado com distância, o apelido veio de um recorte cotidiano bem particular do autor, com direito a um brevíssimo jogo de oralidade. Ele mia, está mais perto de gatos, apenas isso. “Apenas”.

O autor retrata os pormenores de Moçambique em sua vasta produção literária, nação que presenciou cenários políticos caóticos, se recuperando após uma guerra que devastou um país ainda em construção. A obra de Mia Couto não tem viés panfletário tampouco é monotemática, pois todas as suas ficções são ambientadas no cotidiano dos seus personagens, às vezes ligadas diretamente à situação nacional, noutras com foco nos indivíduos enquanto contextos além destes servem como pano de fundo.

Mia Couto moldou a identidade de sua obra mesclando trabalhos de linguagem, “obervações” prosaicas e olhares para a situação geral sem a banalizar.

Uma característica marcante da produção do autor é a linguagem. Palavras familiares a nós mas com grafia estrangeira são pouco perto de “xicuembos”, “cushe-cushes” e “ndlatis”, faladas por pessoas que barulham suas vidas e “desconseguem” largar delas enquanto, sem querer, adicionam doses de poesia aos seus afazeres.

O homem sem ocupação “salariável” que aluga os sapatos, o Ex-Futuro Padre e sua Pré-viúva em seus “desconseguimentos” íntimos, a mulher que se tornou nenhuma, o boi que explode graças a um pássaro ou graças a um disco de metal, ou um homem que divide sua existência com um pássaro, como no conto “O último aviso do corvo falador“:

“Era um pedaço de céu que estava-lhe dentro. As dúvidas somavam mais que as respostas.
– Pode um homem parir nos pulmões?
– Vão ver que é a alma da mulher falecida que transferiu no viúvo.
No dia seguinte, Zuzé confirmou esta última versão. O corvo vinha lá da fronteira da vida, ninhara nos seus interiores e escolhera o momento público de sua aparição.”.

Não me cabe responder se um homem pode parir pelos pulmões, embora seja tentador imaginar a cena acontecendo e sua interpretação pela vizinhança do ‘pai da criança’. Entre pequenos absurdos e olhares poético-fantásticos – quando vistos de fora – e naturais para seus personagens, Mia Couto moldou a identidade de sua obra mesclando trabalhos de linguagem, observações prosaicas e olhares para a situação geral sem a banalizar, possibilitando algum conhecimento de Moçambique por seus olhos. E imaginar que ele se descreveu mais próximo de gatos que de “gentes”.

ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA

Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.

CLIQUE AQUI E APOIE

Tags: Crítica LiteráriaLiteraturaMia CoutoMoçambique

VEJA TAMBÉM

Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.
Literatura

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Nascido em Fortaleza, o escritor Pedro Jucá vive em Curitiba. Imagem: Reprodução.
Literatura

‘Amanhã Tardará’ emociona ao narrar o confronto de um homem com seu passado

28 de maio de 2025
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Retrato da edição 2024 da FIMS. Imagem: Oruê Brasileiro.

Feira Internacional da Música do Sul impulsiona a profissionalização musical na região e no país

4 de junho de 2025
Calçadão de Copacabana. Imagem: Sebastião Marinho / Agência O Globo / Reprodução.

Rastros de tempo e mar

30 de maio de 2025
Banda carioca completou um ano de atividade recentemente. Imagem: Divulgação.

Partido da Classe Perigosa: um grupo essencialmente contra-hegemônico

29 de maio de 2025
Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.