Chimamanda Adichie é uma das escritoras nigerianas mais reconhecidas pelo mundo. Não só o sucesso de livros como Americanah ou Meio Sol Amarelo (que também virou filme) marcam sua carreira, mas também sua posição intelectual – como a palestra “O Perigo da História Única” ou a carta “Sejamos Todos Feministas”, adaptada para diversas mídias. E, além de tudo isso, Chimamanda foi responsável pela apresentação de Buchi Emecheta, sua conterrânea, ao Clube de Assinatura TAG em 2017.
Segundo Chimamanda, ela é uma de suas maiores influências literárias: “Eu li e admiro todos os seus livros. Destination Biafra foi muito importante para a minha pesquisa quando eu estava escrevendo Meio Sol Amarelo. Eu amo As Alegrias da Maternidade por sua vivaz inteligência e por um certo tipo de compreensão honesta, viva e íntima da classe trabalhadora na Nigéria colonial”.
As Alegrias da Maternidade foi a primeira obra traduzida de Emecheta para o Brasil, mas não foi o primeiro livro de Florence Onyebuchi ‘Buchi’ Emecheta. A escritora sabia que seria uma contadora de histórias desde pequena, enquanto observava as contadoras igbo de sua família. A partir daí, resolveu que estudaria o máximo que pudesse. Durante seus primeiros anos de estudo conheceu Sylvester Onwordi, seu futuro esposo.
A escritora teve um casamento infeliz, abusivo e violento. Uma das anedotas que ilustram a agressividade do relacionamento é o momento em que Sylvester encontrou e queimou todo o rascunho de um de seus romances. Por isso, aos 22 anos, Emecheta conseguiu se divorciar. Logo se viu sem dinheiro, com cinco filhos e na Inglaterra, longe de casa e tendo que se virar.
Ela trabalhou em lugares como a Biblioteca de Londres e conseguiu terminar uma graduação em Sociologia, sempre movida pela vontade de contar suas histórias. A virada em sua vida profissional aconteceu quando um jornal inglês chamado New Statesman ofereceu a ela uma coluna para que pudesse escrever sobre suas experiências pessoais. Foi desse lugar que o seu primeiro livro, Na Vala (1972), foi gerado.
Dois anos depois, Buchi publicou Cidadão de Segunda Classe (1974) – publicado no Brasil pela Dublinense no final de 2018, com tradução de Heloisa Jahn. Nesses primeiros romances, mais autobiográficos, a escritora colocou em xeque os estereótipos de mulheres nigerianas, como a formação voltada para a maternidade, a violência do colonialismo e pouca educação destinada às mulheres, também deixou à mostra a opressão vivida em seu cotidiano.
A partir de As Alegrias da Maternidade, Emecheta começa a mesclar questões históricas da Nigéria igbo colonial junto dessas questões mais pessoais, autobiográficas.
No entanto, a partir de As Alegrias da Maternidade, Emecheta começa a mesclar questões históricas da Nigéria igbo colonial junto dessas questões mais pessoais, autobiográficas. Em seu romance, acompanhamos a trajetória de uma jovem igbo, Nnu Ego, filha de Ona e Agbadi – ambos conhecidos por suas personalidades fortes, marcadas por autoridade e intransigência.
Sua vida é marcada por muitas desventuras e má sorte – atribuída à sua chi, uma espécie de guia espiritual da tradição igbo. Na primeira parte do livro, acompanhamos sua luta para casar, engravidar e gerar um filho. Nesse momento, Buchi é bastante didática em apresentar sua cultura, como ao explicar das vestimentas, das bebidas e rituais tradicionais. No entanto, no decorrer do livro, o tom da história passa a mudar e logo acompanhamos a queda da heroína que tanto batalhou para criar os filhos.
O título, como descobrimos, é irônico. Marcada por angústias, a escrita de Buchi era afluente de suas dores. Devastada pelo abandono de uma das filhas que resolveu morar com seu pai Onwordi, Emecheta nos entrega um romance potente. Não é sem dor que descobrimos quais são as alegrias da maternidade.
AS ALEGRIAS DA MATERNIDADE | Buchi Emecheta
Editora: Dublinense;
Tradução: Heloisa Jahn;
Tamanho: 320 págs.;
Lançamento: Outubro, 2018.