Com um discurso afiado em defesa da legalização da maconha e atacando ferozmente o combate às drogas – modelo para os quais é fracassado –, os jornalistas Ioan Grillo e Diego Osorno foram os convidados da mesa “Jornalismo de Guerrilha”, que ocupou o espaço deixado em razão da desistência do italiano Roberto Saviano. Antes do início, a organização da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) passou um vídeo no qual o escritor italiano explicou as razões que o levaram à desistência. Segundo Saviano, medidas visando proteger sua integridade (já que o autor é jurado de morte pela Camorra, a máfia napolitana) impediram sua participação.
Tanto Grillo quanto Osorno trabalham no México e levaram à Flip um assunto pertinente frente ao episódio que culminou em suas participações. No país onde o inglês e o mexicano exercem sua profissão, a guerra entre as forças governamentais e os cartéis deixaram, ao longo dos anos, um rastro de violência e sangue. Em novembro último, o país foi aterrorizado pela notícia do massacre de 43 estudantes a mando dos narcotraficantes (leia matéria aqui). Ambos defenderam a legalização das drogas em virtude do que chamaram de derrota ímpar do combate à sua distribuição e consumo.
“As drogas não são uma questão policial, mas sim de economia, saúde e política.”
Diego Osorno, que necessitou deixar o México por motivos de segurança, narrou que não é apenas o crime organizado que age no país, mas também policiais, políticos e empresários corruptos que permitem a perpetuação deste cenário. “No meu país, quando se faz isso (investigações políticas e econômicas), sempre se chega no crime organizado. Fui obrigado a deixar o país quando cheguei num governador e em um chefe de cartel”, afirmou. “As drogas não são uma questão policial, mas sim de economia, saúde e política”, finalizou o jornalista. Ele ainda fez questão de apontar que, para ele, o combate às drogas é uma guerra perdida.
Ioan Grillo, autor do livro El Narco, ainda inédito no Brasil, abordou em sua fala a brutalidade por trás das organizações criminosas. “Há um uso público da tática do terror”, disse. “É uma forma de colocar medo na população. Entrevistei alguns dos responsáveis por atos terroristas e nenhum deles me pareceu desequilibrado. São recrutados muito jovens e, na sua mente distorcida, se veem como soldados executando ordens superiores”.
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