As chuvas que atingiram Santa Catarina em 2008 deixaram 135 mortos, entre eles Arthur – o corpo que boia na água de enchente no primeiro capítulo de História da Chuva (Record, 160 págs.), de Carlos Henrique Schroeder. A tragédia natural é só o pontapé de um dominó caótico de catástrofes na vida dos personagens.
Schroeder cria um homônimo, que usa como protagonista, para retalhar (e retaliar) o obscuro universo de artistas independentes. O Schroeder-personagem, assim como seu criador, é editor e escritor em uma pequena editora. De quando em quando, se aventurava em alguma trama amorosa. Em História da Chuva, as mulheres são complicadas e os homens devastadores e vaidosos.
Antes que o inferno caísse do céu, Schroeder-personagem já enfrentava a sua danação na Terra. O envolvimento com a impulsiva Melissa se transformou em sua provação. Nada muito pior que o fim do grupo teatral do qual fazia parte. A morte de Arthur – integrante da trupe – apodreceu a amizade de Schroeder com Lauro, o último homem do trio.
É impossível não pensar na relação entre realidade e ficção. Ou seria todo livro a afamada autoficção? No final das contas, claro, isso pouco importa.
Como um deus que cria homens à sua semelhança, o Schroeder-autor faz do ambiente intelectual (ou que assim se diz) o retrato de uma juventude hipócrita, afetada e egoísta. Entre os três, Arthur era o único artista genuíno. Somente ele carregava o gene da Arte – com o “a” maiúsculo.
Autoficção
É impossível não pensar na relação entre realidade e ficção. Ou seria todo livro a afamada autoficção? No final das contas, claro, isso pouco importa.
Nos interessa mais saber se o narrador vai mesmo se casar com Débora – uma namorada recém-chegada à sua vida – ou conhecer um pouco mais sobre Arthur, uma espécie de Rimbaud catarinense. O que fisga no livro é isso: a composição psicológica dos personagens e do ambiente.
HISTÓRIA DA CHUVA | Carlos Henrique Schroeder
Editora: Record;
Tamanho: 158 págs.;
Lançamento: Agosto, 2015.







