A separação de Kim Gordon e Thurston Moore e o fim do Sonic Youth se confundem como uma coisa só. A despedida do grupo, em 2011, em um show no SWU, no Brasil, só incomodou à artista pela dissimulação do ex-marido em afirmar que voltariam em breve ao país – quando todos os integrantes sabiam que isso não poderia ser verdade.
A garota da banda, livro de memórias da baixista, explora muito mais que o final conturbado da banda e do casamento, colocando em evidência a jornada da artista para sobreviver em um universo misógino. Com uma pegada de conversa entre amigos, Gordon consegue criar um relato íntimo, mas que, obviamente, não consegue fugir de sua própria visão dos fatos – o que não significa uma torrente de ressentimentos ou amargura.
O relacionamento de quase 30 anos com Moore não é o prato principal dessa refeição. Kim passeia por toda a sua vida e a relação com o irmão esquizofrênico é uma das partes mais tocantes do livro. O nascimento de Kim como artista aconteceu paulatinamente e, após tantos anos em cima do palco, ela ainda não se considera musicista.
Menos brilhante que a autobiografia de Johnny Marr e mais interessante que tríade sexo-drogas-e-rock-and-roll de muitos livros sobre músicos, A garota da banda não soa como um desabafo – que seria o caminho mais curto – e sim como um retrato em branco e preto de relações abusivas, insegurança e um talento quase incomparável para a arte.
Kim Gordon não se deixa levar pelas vaidades que estar no Sonic Youth poderia lhe trazer. A impressão que passa ao leitor é justamente o contrário: uma pessoa comum com um trabalho normal, que precisar pagar as contas.
A garota da banda é permeado pelas composições fundamentais do Sonic Youth, servindo de gancho para a maioria dos capítulos e os fatos que aconteceram naquele período. Mesmo que não se debruce exatamente sobre o processo de composição, é possível enxergar os cenários que clássicos como “Kool thing”, “100%” e “Teenage riot” nasceram.
Protagonismo
O livro reflete sobre o importante – para não dizer fundamental – papel das mulheres do rock e para a cultura em geral. Kim, ao lado de Siouxsie Sioux e Joan Jett, ajudou a popularizar a imagem feminina como intrínseca ao gênero, não raras vezes visto como uma manifestação puramente masculina. Consciente do que significava ser a garota da banda, uso do destaque como uma fonte de encorajamento para que outras mulheres seguissem seus passos.
Ainda assim, Kim Gordon não se deixa levar pelas vaidades que estar no Sonic Youth poderia lhe trazer. A impressão que passa ao leitor é justamente o contrário: uma pessoa comum com um trabalho normal, que precisar pagar as contas. O diferencial é fazer algo que gosta. Filha de uma dona de casa e de um professor universitário, a baixista poderia ter levado uma vida suburbana como a maioria das suas amigas. Não fosse a Arte, provavelmente, seria isso o que teria acontecido.
[box type=”info” align=”” class=”” width=””]A GAROTA DA BANDA | Kim Gordon
Editora: Rocco;
Tradução: Alexandre Matias e Mariana Moreira Matias;
Tamanho: 288 págs.;
Lançamento: Agosto, 2015.
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