Prefiro escrever sobre temas distantes no tempo e no espaço.
Hoje, 31 de março de 2019, violo minha regra autoimposta e escrevo sobre esta data de memória tão funesta para nós, brasileiros. Ou para a maior parte de nós. Eu me ocupo de literatura de testemunho e seria absurdo ignorar que há 55 anos (e estas datas múltiplas de cinco parecem conter alguma magia – uma magia funesta, neste caso) começou a ser escrita uma página repleta de sadismo na história do Brasil.
A data poderia ser 1 de abril, mas, convenhamos, ficaria feio dizer que houve um golpe de Estado (e eles são abundantes em nossa história) no “dia da mentira”. Pareceria uma farsa. Não foi farsa. Houve muita gente torturada, muita gente morta, muita gente perseguida. Seres humanos.
Houve muita gente torturada, muita gente morta, muita gente perseguida. Seres humanos.
Este capítulo da história precisa ser lido, estudado, discutido. Jamais “comemorado”. Não dá para comemorar crianças torturadas (sim, isso existiu), mães torturadas em frente aos seus filhos (sim, isso existiu), não dá para comemorar mulheres grávidas torturadas (sim, isso existiu), não dá para comemorar estupros (sim, isso existiu), empalações (idem), exílios, autoexílios, esquadrões da morte (idem), Comando de Caça aos Comunistas, censura… a lista cresce. Ah, apenas para enunciar o óbvio: também houve corrupção.
Mas basta.
O que há de literatura sobre o tema? Muita coisa. Reproduzo aqui uma lista feita pela professora Regina Dalcastagnè (UnB), que anda circulando em determinada rede social (as senhoras e os senhores sabem qual…) a título de “sugestões de leitura”:
- A expedição Montaigne (1982), de Antonio Callado;
- A festa (1976), de Ivan Ângelo;
- Ainda estou aqui (2015), de Marcelo Rubens Paiva;
- Amores exilados (1997), de Godofredo de Oliveira Neto;
- A noite da espera (2017), de Milton Hatoum;
- Antes do passado: o silêncio que vem do Araguaia (2012), de Liniane Haag Brum;
- A resistência (2015), de Julián Fuks;
- As meninas (1973), de Lygia Fagundes Telles;
- Avalovara (1973), de Osman Lins;
- A voz submersa (1984), de Salim Miguel;
- Azul corvo (2010), de Adriana Lisboa;
- Bar Don Juan (1971), de Antonio Callado;
- Cabo de guerra (2016), de Ivone Benedetti;
- Em câmara lenta (1977), de Renato Tapajós;
- Em liberdade (1981), de Silviano Santiago
- Feliz ano velho (1982), de Marcelo Rubens Paiva
- Felizes poucos (2016), de Maria José Silveira;
- História natural da ditadura (2006), de Teixeira Coelho;
- Incidente em Antares (1971), de Érico Veríssimo;
- K.: relato de uma busca (2011), de Bernardo Kucinski;
- Lobos (1997), de Rubem Mauro Machado;
- Mulheres que mordem (2015), de Beatriz Leal;
- Não falei (2004), de Beatriz Bracher;
- Não verás país nenhum (1981), de Ignacio Loyola de Brandão;
- Nem tudo é silêncio (2010), de Sônia Regina Bischain;
- Nos idos de março (2014), org. de Luiz Ruffato;
- O indizível sentido do amor (2017), de Rosângela Vieira Rocha;
- O fantasma de Buñuel (2004), de Maria José Silveira;
- O que é isso companheiro? (1979), de Fernando Gabeira;
- O torturador em romaria (1986), de Heloneida Studart;
- Outono (2018), de Lucília Garcez;
- Os carbonários (1980), de Alfredo Sirkis;
- Os pecados da tribo (1976), de José J. Veiga;
- Os que bebem como os cães (1975), de Assis Brasil;
- Os tambores silenciosos (1977), de Josué Guimarães;
- Os visitantes (2016), de Bernardo Kucinski;
- Outros cantos (2016), de Maria Valéria Rezende;
- Palavras cruzadas (2015), de Guiomar de Grammont;
- Paris – Rio – Paris (2017), de Luciana Hidalgo;
- Poemas do povo da noite (2017), de Pedro Tierra;
- Primeiro de abril (1994), de Salim Miguel;
- Quarup (1967), de Antonio Callado;
- Reflexos do baile (1977), de Antonio Callado;
- Retrato calado (1988), de Luiz Roberto Salinas Fortes;
- Silêncio na cidade (2017), de Roberto Seabra;
- Sombras de reis barbudos (1972), de José J. Veiga;
- Um romance de geração (1980), de Sérgio Sant’Anna;
- Volto semana que vem (2015), de Maria Pilla;
- Zero (1975), de Ignacio Loyola de Brandão.
O poeta e também professor Otto Leopoldo Winck (UNIANDRADE) também disponibilizou uma lista de obras de ficção, mas paranaenses, sobre a ditadura militar:
- 1968 ditadura abaixo (2008), de Teresa Urban (com Guilherme Caldas);
- 1971 (1978), de Reinoldo Atem;
- 7 de amor e violência (1965), de vários autores;
- A Hidra (2016) de Marlene Rodrigues;
- Alegres memórias de um cadáver (1979), de Roberto Gomes;
- As moças de Minas (1989), de Luiz Manfredini;
- Herança de maria (2011), de Domingos Pellegrini;
- Memória da neblina (2011), de Luiz Manfredini;
- No campo do inimigo (1981), de Fábio Campana;
- Notas de um tempo silenciado (2015), de Robson Vilalba;
- O guardador de fantasmas, de Fabio Campana;
- O homem vermelho (1977), de Domingos Pellegrini;
- Tempo sujo (1968), de Jamil Snege;
- Todo o sangue (2004), de Fábio Campana;
- Restos mortais (1978), de Fábio Campana;
- Solidão calcinada (2010), de Bárbara Lia.
Também convém ler livros de história. A lista seria vastíssima e meus caracteres já estão pelo fim.