Recentemente, joguei para os meus seguidores no Twitter a seguinte pergunta: quais são os livros de humor que vocês conhecem que foram escritos por mulheres? A pergunta capciosa se baseava em uma percepção (em parte pessoal, em parte não) de que, historicamente, as mulheres se inseriram pouco no campo do humor.
Minha hipótese se sustenta no simples fato de que há muito mais comediantes homens que se deram bem do que comediantes mulheres. Teci algumas tentativas de explicação para isto neste texto: às mulheres, o humor sempre foi visto como algo que as “corrompia”. Se sempre se esperou que fôssemos “belas, recatadas e do lar”, é claro que enveredar na comédia significa subverter tudo isso.
Mas, ainda assim, temos um bom panteão de comediantes mulheres no Brasil e no mundo. E na literatura, será que o humor segue presente? Os romances com elementos cômicos escritos por mulheres são mais difíceis de encontrar, mas penso que temos sim uma ótima safra de livros muito engraçados que foram produzidos pelas autoras ao longo dos anos. É sempre bom lembrar que o humor é algo bem amplo e pode se manifestar de várias formas – por isso, o que para mim parece hilário talvez não seja para você.
Mas para incentivá-lo a explorar esta faceta tão divertida da literatura, trago aqui uma lista com 7 obras engraçadas que foram escritas por mulheres. Divirta-se.
‘O Primeiro Homem Mau’, de Miranda July
Não poderia iniciar esse texto sem prestar reverência a esta artista multimidia cujas obras literárias estão entre as minhas favoritas da vida. Miranda July é uma verdadeira mestra na criação de livros tão comoventes quanto constrangedores.
Se historicamente esperou-se que fôssemos “belas, recatadas e do lar”, é claro que enveredar na comédia significa subverter tudo isso.
Neste romance, ela chega ao ápice de suas potencialidades ao criar uma personagem muito especial: Cheryl Glickman, uma mulher de 43 anos muito solitária. Para a maioria de nós, ela é incrivelmente patética. Ela trabalha num emprego sem graça e passa a maior parte do tempo fantasiando um romance com seu colega mais velho.
Só que esse mundo pacífico (e passivo) começa a desmoronar com a chegada de Clee, a filha dos seus chefes, uma jovem adulta que se insere na sua vida como um parasita – embora ela seja bem mais que isso. Por mais que tudo soe ridículo, é impossível não rir o tempo todo ao ler O Primeiro Homem Mau.
‘Macha’, de Claudia Tajes
A tradição do humor feito por mulheres também aparece em Macha, livro da escritora gaúcha Claudia Tajes. O romance é uma brincadeira debochada com A Metamorfose, de Kafka. Enquanto o escritor tcheco imagina um homem que um dia acorda como uma barata, Claudia pensa numa bancária que, de um dia para outro, acorda homem.
A transformação é tão metafórica quanto física, e a faz passar por baques de todo o tipo frente à nova condição: o filho que acha que ela é um ladrão, o ex-marido babaca, a diarista evangélica, todos eles serão motivos de constrangimento para esta mulher – e, para nós, desculpas para o riso.
‘Alucinadamente Feliz’, de Jenny Lawson
A escritora Jenny Lawson se define como uma “colecionadora de transtornos mentais”: sofre de depressão, transtorno de ansiedade, distúrbio de automutilação branco, transtorno de personalidade esquiva, dentre outros sofrimentos. Mas sua ideia da obra Alucinadamente Feliz é demonstrar que mesmo o pior dos fardos pode ser a mola propulsora para a mais louca das decisões: ser feliz.
De forma bastante engraçada, Jenny trata de maneira irreverente e corajosa sobre os transtornos mentais e o que eles ensinaram para ela.
‘Confissões do Crematório’, de Caitlin Doughty
Caitlin Doughty é uma agente funerária que criou um filão para si. Ela fala do tema morte de maneira tão fria e objetiva que acaba criando relatos de humor. Nesta obra bastante divertida, ela compartilha as histórias que colecionou durante o tempo que trabalhou em um crematório na Califórnia e tudo que aprendeu sobre a vida ao barbear cadáveres e preparar corpos para a cremação.
‘Ninguém Morre Sem Ser Anunciado’, de Paula Gomes
Em Ninguém Morre Sem Ser Anunciado, o estilo único de Paula Gomes transparece em uma trama bastante peculiar envolvendo Ceci, uma personagem que seguimos ao longo do livro, e um narrador que interfere eventualmente na trama. Como diz a sinopse misteriosa do livro: a única coisa que sabemos, ao começar a leitura, é que Ceci vai morrer com uma machadada na cabeça. Enquanto isso, vamos acompanhando seus últimos momentos enquanto ela tenta se tornar uma síndica.
‘Meu Ano de Descanso e Relaxamento’, de Ottessa Moshfegh
Uma mulher desenvolve um plano que parece ser o sonho de tantas outros mulheres: passar um ano inteiro dormindo a base de remédios. É uma espécie de piada, claro – mas ao mesmo tempo não é. A protagonista de Meu Ano de Descanso e Relaxamento, da americana Ottessa Moshfegh, lida com seus problemas (a depressão iminente e o grande vazio existencial) procurando uma forma de fugir deles. Por mais que pareça horrível, é também hilário.
‘Do Que é Feita Uma Garota’, de Caitlin Moran
Do Que é Feita Uma Garota acompanha uma menina que é meio loser. É uma garota chamada Johanna Morrigan, com 14 anos, cheia de irmãos, uma mãe que sofre de depressão e um pai que está sempre meio bêbado.
Ou seja, Johanna tem todas as desculpas para ser desagradável, e ela realmente é. Mas isso não deixa de ser o charme dessa obra que é uma espécie de livro de memórias de Caitlin Moran.
Como sempre, esta é uma lista colaborativa. Conte-nos em nossas redes sociais outras indicações de livros engraçados escritos por mulheres que você lembra.
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