Há muito, a cultura popular tem estereotipado poetas como seres deprimidos e vulneráveis à loucura pela identificação romanesca. A ideia de um vínculo entre criatividade e doença mental remonta à época de Aristóteles, quando ele escreveu que eminentes filósofos, políticos, poetas e artistas tinham tendências à “melancolia”.
Há numerosos exemplos de criadores famosos – escritores como Virginia Woolf, pintores como Vincent Van Gogh, compositores como Robert Schumann – que obtiveram grande sucesso, mas tinham ou são suspeitos de terem tido uma doença mental.
Apesar da recusa da comunidade literária em associar doenças mentais com o ofício da escrita, essa teoria vem ganhando cada vez mais relevância, principalmente dos anos 2000 para cá, com o surgimento de pesquisas científicas que sugerem que pessoas criativas são 30% mais propensas a sofrer com transtorno bipolar.
Uma das revelações mais curiosas é o chamado “Efeito Plath”, descoberto pelo psicólogo e pesquisador de criatividade James Kaufman, PhD, da Universidade Estadual da Califórnia, em 2001.
Os estudos de Kaufman especulam ainda que altos níveis de criatividade exigem que as pessoas ‘desafiem a multidão’ e ignorem o que as outras pessoas pensam.
Kaufman realizou um estudo com 1.629 escritores, no qual descobriu que poetas – e em particular poetisas – eram mais propensos do que escritores de ficção, escritores de não-ficção e dramaturgos a terem sinais de doença mental, como tentativas de suicídio ou hospitalizações psiquiátricas.
Em uma segunda análise com 520 mulheres americanas, ele novamente descobriu que as poetas eram mais propensas a terem doenças mentais e a tragédias pessoais do que jornalistas, artistas visuais e atrizes – uma descoberta que Kaufman apelidou de “Efeito Plath”. Os resultados aparecem no Journal of Creative Behavior (Vol. 35, n º 1).
Os estudos de Kaufman especulam ainda que altos níveis de criatividade exigem que as pessoas “desafiem a multidão” e ignorem o que as outras pessoas pensam. Isso significa que a escrita eminente poderia produzir mais estresse – levando a uma maior incidência de doenças mentais.
No entanto, não há dados que comprovem que a escrita de poesia não é benéfica. “É muito possível que escrever poesias tenha mantido Sylvia Plath viva mais tempo do que ela teria”, diz o psicólogo James Pennebaker, da Universidade do Texas, em Austin.
Por que “Efeito Plath”?
O termo “Efeito Plath” foi cunhado em referência à escritora Sylvia Plath, encontrada morta, em sua casa, em 11 de fevereiro de 1963, com a cabeça dentro do forno e o gás ligado. Devota das palavras certeiras, Sylvia consagrou a sua vida ao “grande striptease“, confundindo literatura e vida e nos presenteando com o romance semi-autobiográfico A Redoma de Vidro, no qual detalha o processo sutil e doloroso da depressão.
Quando o remédio é escrever
Na contramão das teorias anti-criatividade, surgem pesquisas que reconhecem a neurobiologia da escrita terapêutica. No entanto, essas tentativas de retratar o cérebro antes e depois de escrever ainda apresentam muitos pontos obscuros, pois as regiões ativas estão localizadas em áreas muito profundas do sistema cerebral.
O que se sabe é que a escrita ativa um conjunto de vias neurológicas. “Estudos com ressonância magnética funcional nos mostraram que o cérebro trabalha de forma diferente antes, durante e depois de escrever”, conclui o psicólogo James Pennebaker.