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‘A Menina Submersa’: era uma vez um livro muito chato

'A Menina Submersa', de Caitlín R. Kiernan, é uma enfadonha mistura de contos de fadas, cultura pop e horror, em que forma se destaca mais do que conteúdo.

porEder Alex
20 de abril de 2016
em Literatura
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'A Menina Submersa': era uma vez um livro muito chato

Imagem: Reprodução.

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Ainda não tinha pensando numa sereia como um monstro de história de terror. Se for ver, um híbrido macabro de mulher e peixe que encanta as pessoas com melodia da sua voz, realmente tem potencial, principalmente se você misturar isso com histórias de gente afogada, mitologia, ocultismo, Lovecraft e cultura pop.

Caitlín R. Kiernan, escritora que nasceu na Irlanda e quando criança foi morar nos EUA, tenta fazer essa mistura toda funcionar de uma maneira não muito convencional em A Menina Submersa, obra vencedora do prêmio Bram Stoker Awards 2013. O livro, publicado pela editora Darkside, com tradução de Ana Resende e Carolina Caires Coelho (que certamente tiveram um trabalho dos infernos), é um daqueles casos meio raros na literatura fantástica em que a forma é muito mais interessante do que o conteúdo.

Mas vamos por partes. Primeiro vamos falar de coisa boa, vamos falar de TecPix.

O que impressiona já de cara é o fato de que não estamos diante de uma narradora comum. India Morgan Phelps é uma garota que sofre de esquizofrenia e sua condição se reflete na forma como ela escreve. Narradores não confiáveis são interessantes, porque em geral eles mais dificultam do que ajudam a vida do leitor e aí o desafio de montar o quebra-cabeça da narrativa se torna muito mais interessante. Em A Menina Submersa, que é todo não-linear, isso é explorado à exaustão, pois em diversos momentos, às vezes até no mesmo parágrafo, India nos dá duas versões para os mesmos fatos e ainda conversa consigo ou com as vozes na sua cabeça. Fora isso, ao longo do livro ela cita a si mesma várias vezes, voltando algumas páginas para mostrar que está falando a verdade, que aquilo aconteceu e ela não está entrando em contradição. Parece confuso? E é mesmo. Mas funciona muito bem e chega a dar uma dor no coração quando a autora começa a cagar com tudo.

Mas calma, que ainda tem coisa boa.

India conhece a personagem Abalyn, uma transexual. Embora se possa fazer aproximações metafóricas que correlacionem a sexualidade da personagem e o corpo dúbio de uma sereia, o livro felizmente não envereda por essa questão e ela é tratada simplesmente como uma pessoa qualquer. Enfim, não há panfletagem e nem didatismos a esse respeito, o fato de Abalyn ser transexual e India ser lésbica impacta na narrativa, mas está longe de ser o mote da trama.

Como os fãs de literatura de fantasia adoram referências, os autores costumam prestar um fanservice que não acrescenta muita coisa à narrativa, mas faz o leitor bater palminhas: “olha lá, ela está jogando Playstation!”, “Nossa, eu já vi esse filme”, “A-do-ro esse livro”, “Minha músicaaaaaa!”. Caitlín também espalha referências nessa tentativa de representar uma jovem comum e talvez isso explique porque tanta gente gosta da obra, o problema é que nem só de piscadinhas para o leitor vive um livro.

Destas referências, uma é bastante útil e serve para determinar o tom do livro. Não vou explicar o enredo aqui, mas basicamente tudo está relacionado a uma pintura, uma garota nua perdida numa estrada, uma exposição macabra e um cara com o sobrenome Perrault. Se você já leu esse texto (clique aqui) sobre as origens dos contos de fadas, sabe que lá no início elas eram bem perturbadores e que uma das primeiras versões de Chapeuzinho Vermelho foi escrita por Charles Perrault. Nela, o lobo devora todo mundo e não aparece nenhum lenhador pra resolver as coisas na base da machadada.

Caitlín tenta se aproximar dessa pegada mais macabra. Inclusive ela até encontrou o tom adequado para suas pretensões e ainda fez boas pesquisas, a única coisa que faltou mesmo foi ter uma história decente para contar.

O que impressiona já de cara é o fato de que não estamos diante de uma narradora comum. India Morgan Phelps é uma garota que sofre de esquizofrenia e sua condição se reflete na forma como ela escreve.

Vamos aos problemas.

Apesar das citações pop, A Menina Submersa padece de um problema muito sério para um gênero que visa o entretenimento: o livro é chato pra caralho. E caso o objetivo maior fosse o terror: ele não chega nem perto de dar medo.

Aquilo que é o maior trunfo da autora, a forma criativa de narrar, acaba por se tornar também um dos maiores problemas, quando percebemos que ela não sabe para onde ir e opta pelo caminho mais fácil: não vai a lugar nenhum.

Do segundo terço em diante, o livro dá voltas e voltas que não acrescentam nada à narrativa e nem ao menos desenvolvem os personagens. Chega a ser irritante a quantidade de vezes que a personagem repete que está contando uma história de fantasma e que encontrou duas vezes a mulher que talvez seja uma sereia. Ela fica mais de 100 páginas (!?) contando que estava passando de carro, encontrou uma mulher nua na estrada e a trouxe pra casa. Só isso, em mais de cem páginas. Foi necessário me conter para não pular os capítulos, não porque eu estivesse curioso para saber a verdade, mas simplesmente porque não suportava mais aquele looping insuportável.

India escreve para espantar seus demônios e para tentar colocar a sua mente em ordem, então é até factível que haja repetição, mas a inércia do enredo que se pretende misterioso torna tudo muito desinteressante. Os exemplos que a garota pesquisa, como Aokigahara, a Floresta dos Suicidas, que fica no Japão e que virou point macabro só depois que um escritor escreveu sobre um personagem que se mata lá, são muito mais interessantes e assustadores do que a história da sereia, dos corvos, dos lobos e a porra toda que autora tenta nos enfiar goela abaixo.

O livro não chega a ser um desastre completo, pois além das questões técnicas já mencionadas, a escritora opta por final que não deixa de ser enfadonho, mas que pelo menos é corajoso, já que não dá muitas respostas fáceis.

Enfim, A Menina Submersa parece ser daqueles livros que possuem fãs mais pelo hype entorno da obra e suas referências cults, do que por gente que de fato conseguiu ler o treco até o fim.

A MENINA SUBMERSA | Caitlín R. Kiernan

Editora: Darkside;
Tradução: Carolina Caires Coelho e Ana Resende;
Tamanho: 320 págs.;
Lançamento: Maio, 2015.

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Tags: A Menina SubmersaBook ReviewCaitlín R. KiernanContos de FadasCríticaCrítica LiteráriaDarksideLiteraturaLiteratura ContemporâneaLiteratura FantásticaResenhaReviewSereiasterror

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