O livro Amora, que deixou para trás nomes como o de Luis Fernando Veríssimo e foi vencedor do prêmio Jabuti 2016 de contos, é uma coletânea composta por 33 narrativas a respeito do amor feminino e de relacionamentos lésbicos.
A autora Natália Borges Polesso deixa explícito que ser homossexual não é o ponto, pois estas são histórias de pessoas. E ainda que a obra possua mais de 50 personagens lésbicas, o que poderia se tornar repetitivo, prova-se rapidamente muito mais que isso.
São mulheres jovens e velhas, que desfilam em frente aos nossos olhos histórias de ciúmes, preconceito, términos, traições, envelhecimento, depressão e amor. São histórias de mulheres. E ponto.
Amora. Feminino de amor.
Da literatura realista à mais abstrata. O estilo de escrita de Polesso passeia pelos gêneros e assume muitas formas, sem perder o traço poético e o rumo da narrativa que está sendo contada.
Em Amora, Natália Borges Polesso traz brilhantemente a figura feminina para o primeiro plano.
A divisão do livro em duas partes delineia ainda mais a separação entre prosa e poesia. Na primeira parte, “Grandes e sumarentas”, encontramos textos extensos, repletos de ironia, lirismo, deboche e humor.
Já na segunda parte, “Pequenas e ácidas”, são textos sucintos, apresentados em um tom quase confessional, muito semelhante àquele presente na obra de estreia de Natália, Recortes para álbum de fotografia sem gente, vencedora do Prêmio Açorianos de Literatura 2013, na categoria Contos.
De mulher pra mulher
Em Um Teto Todo Seu, a escritora Virginia Woolf já falava sobre a diferença entre obras escritas por mulheres e obras escritas por homens, no que diz respeito ao universo feminino. As escritas por mulheres geralmente apresentavam uma relação positiva e complexa entre duas personagens femininas, enquanto as escritas por homens retratavam a mulher a partir do referencial masculino, em suas relações com os homens; as poucas relações entre mulheres que podiam ser encontradas eram negativas e de competição.
Em Amora, Natália Borges Polesso traz brilhantemente a figura feminina para o primeiro plano. Em poucas páginas, a autora constrói personagens complexas, com personalidades profundas e que passam ao leitor um amplo espectro de sentimentos. Cada uma das histórias contém todo um microcosmo envolvente.
Confira abaixo um trecho do conto “Dramaturga hermética”:
“Tenho me pensado como lugar, sabe? Um corpo é um lugar? O corpo como metáfora de lugar, percorrido, uma cartografia de vida, com suas marcas, sinais, ilhas. Não uma correspondência exata, como se o cérebro fosse uma parte cultural da cidade e o estômago uma parte gastronômica, mas um mapa caótico, sem fronteiras, onde as ruas vão dar em becos escuros e estreitos como nossos dedos e em lugares úmidos e com cheiros ocres. Como nossos olhos.” (pág. 106).
AMORA | Natalia Borges Polesso
Editora: Não Editora;
Tamanho: 256 págs.;
Lançamento: Outubro, 2015.