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‘Contos de Kolimá: 1’: o testemunho do horror dos gulags

Em 'Contos de Kolimá', Varlam Chalámov narra a tragédia dos gulags, vivida pelo próprio autor, compondo um relato autobiográfico sem floreios.

porLuiz Henrique Budant
23 de abril de 2018
em Literatura
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'Contos de Kolimá: 1': o testemunho do horror dos gulags

Imagem: Reprodução.

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Enquanto escrevo, lá fora faz uns 24ºC. Os que me leem, quero convidá-los a um mundo tão distante quanto o extremo leste da Sibéria e não raro com termômetros 80ºC a menos do que os agradáveis 24ºC de hoje. Quero convidá-los a um mundo onde se aprende que o cuspe congela no ar a -50ºC e, principalmente, em que podemos ver quão fino é o véu com que nos cobrimos e nos dá o nome de “civilizados” ou “éticos”… Lá, percebemos “com que facilidade o homem se esquece de ser um homem”. Convido-os para os Contos de Kolimá: 1, de Varlam Chalámov.

Atualmente traduzido para português nas mãos de excelentes tradutores (o primeiro volume é da lavra de Denise Sales e Elena Vasilevich; sim, são 6 volumes, pela Editora 34), o ciclo de Kolimá ocupou a vida inteira de Chalámov. Pudera! Depois de visitar o “outro mundo” (faço menção ao livro Inny Świat, do polonês Gustaw Herling-Grudziński), Chalámov decide “dedicar o resto de sua vida” (p. 13) ao dever ético de narrar a tragédia dos gulags, para onde a ditadura stalinista enviava prisioneiros a fim de que cumprissem pena de “trabalhos correcionais” (o que significava, podemos ver pelo relato de Chalámov, trabalhar sob frio inumano, sem roupas adequadas e à base de sopa rala e, com sorte, um naco de pão).

Uma literatura que testemunha o horror

Esta ideia de um dever ético de narrar o horror vivido é muito presente na literatura de testemunho. Podemos vê-la, por exemplo, em Primo Levi, Imre Kértesz, Tadeusz Borowski, no já mencionado Gustaw Herling-Grudziński ou, ainda, em Alieksandr Soljenítsin. Todos narram horrores diferentes e de distintas maneiras, mas a noção de que “é preciso dar testemunho” está ali.

O terror, a fome, a exaustão, as doenças, as automutilações (!) e o frio estão condensados em cada página dos Contos de Kolimá.

A ideia do testemunho pode sugerir que há um apagamento do trabalho literário, mas não é disso que se trata. Podemos ver que há trabalho literário e de excelente qualidade na literatura de testemunho. Na obra de Chalámov, em especial, poderemos notar, por exemplo, frases mais curtas. “Socos textuais” em nossas caras bem-alimentadas. A sequência dos contos é “cuidadosa”, assinala Irina P. Sirotínskaia, em prefácio para a edição italiana dos Contos de Kolimá e que, na tradução de Diana Szylit, podemos ler na edição brasileira do primeiro volume. Ainda citando a pesquisadora e amiga pessoal de Chalámov: “o desencadear espiralado das temáticas, o simbolismo da estrutura narrativa, o subtexto filosófico, o ritmo da prosa – tudo foi muito bem equilibrado na precisa balança da intuição criativa e da maestria profissional” (p. 11).

Sirotínskaia nos informa que “o leitor deste livro deve ficar imerso em um grande cansaço espiritual” (p. 13). Acrescento que o leitor provavelmente padecerá de insônia, possivelmente terá vontade de consultar um psicanalista e é bem provável que acabe indo buscar uma blusa de lã para vestir. O terror, a fome, a exaustão, as doenças, as automutilações (!) e o frio estão condensados em cada página dos Contos de Kolimá e, parece-me, nossa experiência de leitura será tão valiosa o quão forem fortes as sensações que ela nos causar, quão profundamente nos fizer refletir sobre os abismos da alma humana (sim, “porque a alma humana é um abismo”).

Itinerário apresentado, convido-os, vocês que me leem, a conhecer Kolimá, a conhecer um pouco mais da excelente literatura daquela que muitas vezes é chamada de “a outra Europa”, temas sobre os quais pretendo escrever aqui na Escotilha.

CONTOS DE KOLIMÁ, VOL 1 – Varlam Chalámov

Editora: 34;
Tradução: Denise Sales e Elena Vasilevich;
Tamanho: 304 págs.;
Lançamento: Agosto, 2015 (atual edição).

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Tags: Book ReviewContos de Kolimácontos russosCrítica LiteráriaEditora 34gulagLiteraturaliteratura de testemunhoResenhaReviewvarlam chalamov

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