O livro Depois Daquela Viagem é uma autobiografia da escritora Valéria Piassa Polizzi, que, aos 16 anos, contraiu o HIV. A coragem e a luta da autora acabaram por torná-la um símbolo de sobrevivência para os portadores do HIV.
A obra, que fala com sensibilidade a respeito da trajetória da jovem HIV positiva, foi aprovada na última semana no âmbito do Programa Nacional do Livro e do Material Didático – PNLD 2018 Literário. Agora, aguarda o processo em que professores e diretores de instituições públicas de ensino de todo o país avaliarão as obras aprovadas pelo MEC e pelo FNDE e escolherão quais delas devem ser adotadas pela escola.
Frente a frente com a AIDS
A história se inicia na década de 1980, com a viagem de cruzeiro que Valéria faz com seus pais, aos 16 anos. No navio, conhece um rapaz 9 anos mais velho, que viria a se tornar seu namorado. Passada a fase de conto de fadas, Valéria se vê num relacionamento abusivo, tanto moral quanto fisicamente. A série de maus tratos só termina quando a família flagra uma cena de agressão e interfere pelo fim do relacionamento.
Após dois anos, Valéria descobre ser portadora do HIV. Como só havia se relacionado com o namorado abusivo, a equação é óbvia: ele a contaminou. A partir daí, a obra mostra como, de repente, por causa de três letrinhas, a vida da autora passa por uma reavaliação radical.
Em forma de diário, como numa conversa entre amigos, Valéria narra como o preconceito da sociedade e a falta de tato dos hospitais a fizeram associar o HIV e as doenças relacionadas a ele a uma única palavra: morte. Isso porque o HIV, que já chegou a ser chamado de câncer gay e que foi diretamente associado a usuários de drogas, deixou a sociedade apavorada no início dos anos 90, quando não havia tratamentos eficazes para a doença.
O HIV, que já chegou a ser chamado de câncer gay e foi diretamente associado a usuários de drogas, deixou a sociedade apavorada no início dos anos 90, quando não havia tratamentos eficazes para pessoas soropositivas.
Acreditando ter recebido sua sentença de morte – e para fugir dela -, Valéria resolve passar um tempo nos Estados Unidos, país que já apresentava um avanço significativo no tratamento da AIDS e na forma com que as pessoas no geral lidavam com os portadores do HIV.
Uma nova perspectiva
Em terras norte norte-americanas, lhe é apresentado um novo lado dos pacientes com doenças relacionadas ao HIV: o lado da vida. Lá, ela descobre que é possível viver com o vírus por um longo tempo e de forma saudável.
Apesar dessa ponta de esperança, Valéria foge o quanto pode do tratamento com anti-retrovirais. O medo das reações e complicações, e a falta de humanidade dos especialistas pelos quais passou, são fatores decisivos na decisão por não se tratar.
No entanto, após contrair uma febre que não baixava e um mal-estar frequente, a escritora volta ao Brasil e é internada. Após quase morrer, acaba optando por iniciar o tratamento ao qual tanto se negou.
Nesse momento, Valéria relata seu sofrimento e o dos pais quando tiveram os resultados dos exames, o medo de encarar as pessoas e todo o tempo que passou sem contar ao restante da família e aos amigos que era soropositivo.
Ao mesmo tempo que narra uma história de preconceito e sofrimento, Depois daquela viagem propicia uma verdadeira imersão cultural no cotidiano e na alma dos jovens de sua época. Valéria relata com bom humor e descontração assuntos rotineiros na vida dos jovens como vestibular, o despertar da sexualidade, viagens, família e amigos, porém na perspectiva de quem achava que não iria viver tempo o suficiente para realizar seus sonhos e projetos.
Hoje, com 43 anos, Polizzi cuida dos pais e é adepta da meditação. Sua história já vendeu mais de 300 mil exemplares e foi editada em diversos países. Depois Daquela Viagem foi transposto para o teatro pelo dramaturgo Dib Carneiro Neto e é exemplo na luta contra a Aids.
DEPOIS DAQUELA VIAGEM | Valéria Piassa Polizzi
Editora: Ática;
Tamanho: 288 págs;
Lançamento: Dezembro, 2019 (14ª edição).