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Home Literatura

Isso não esclarece nada: porque ‘O Estrangeiro’ incomoda

Em 'O Estrangeiro', Albert Camus narra história de homem comum diante do absurdo da condição humana depois de cometer um crime de maneira quase inconsciente.

porWalter Bach
6 de agosto de 2015
em Literatura
A A
Albert Camus Crítica Resenha

Imagem: Reprodução.

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Mamãe morreu hoje, nos conta o personagem. Ou ontem, ele não sabe, apenas recebeu um telegrama do asilo onde ela morava o contando do fato e do enterro no dia seguinte, mas ele diz “isso não esclarece nada”. Desconfio que com essa frase do parágrafo inicial, Albert Camus entregou, sem querer, um dos motes de sua obra O Estrangeiro.

A história é narrada em primeira pessoa por Meursault, cujos atos, durante e após o enterro da mãe, acompanhamos. Em diálogo com uma pessoa do asilo onde ela morava, Meursault ouve que não precisa pedir desculpas, afinal seu salário é muito baixo para a sustentar; mas os pensamentos do protagonista apontam outra direção, reforçada por uma pergunta sobre a falecida para a qual ele responde “não sei”.

Encerrada a cerimônia fúnebre, Meursault volta para casa e não tarda a retomar sua vida. Um vizinho o chama e começam a dialogar sobre algumas particularidades; não tarda para que ele e Meursault tenham algum vínculo e o protagonista seja convidado para uma saída em grupo; teria a companhia de uma mulher e mais gente com quem conversar, e sem dizer muito ele aceita.

Igualmente sem dizer muito, Meursault se envolve em uma confusão grave. Nem era tanto com ele, talvez pudesse ser considerado uma vítima ou alguém coagido a testemunhar em favor de um dos envolvidos, apenas talvez – se não fosse um detalhe: “o gatilho cedeu, toquei o ventre polido da coronha e foi aí, no barulho ao mesmo tempo seco e ensurdecedor, que tudo começou”.

Meursault assassina um homem e é preso, mas isso é apenas a entrada. Privado de sua liberdade, nada faz para a ter de volta e tampouco demonstra arrependimento, e mesmo a consciência de seu crime incomoda. Ele compartilha com a gente sua ótica de quem se vê no banco do réus e ainda acha isso interessante; descreve a sociedade de forma corrosiva quase como se estivesse ausente dela, como se cada detalhe fosse uma bala guardada na arma que usou.

Ele compartilha com a gente sua ótica de quem se vê no banco do réus e ainda acha isso interessante.

Me arrisco a dizer que aqui está a real história escrita por Albert Camus: a ambígua posição do protagonista d’ O Estrangeiro. A narrativa se (des)constrói pelas ambiguidades e nos força um posicionamento – ironicamente, o do personagem fica nas sombras. Nada contra personagens ambíguos, vide o Capitão Nemo de Júlio Verne, cujos demônios cabem em uma declaração: “Rompi com a sociedade por razões que somente eu tenho o direto de julgar”; ou então o protagonista sacana e nada confiável de O Cemitério de Praga de Umberto Eco, para quem o problema é ser pego negociando com facções opostas (enquanto ele claramente prejudica ambas na surdina); mas do protagonista desta obra em questão não temos nem isso.

É difícil ‘confiar’, se a palavra cabe, em uma visão terrivelmente parcial e sem afeto ou ódio por pessoa alguma; torcer contra um culpado que parece indiferente a tudo, sendo que passa um romance inteiro e continuamos sabendo pouco de sua natureza.

O ESTRANGEIRO | Albert Camus

Editora: Record;
Tradução: Valerie Rumjanek;
Tamanho: 128 págs.;
Lançamento: Junho, 1979.

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Tags: Albert CamusCrítica LiteráriaLiteraturaliteratura francesaO EstrangeiroRomance

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