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‘Fama e Anonimato’ e a ponte que Gay Talese cruzou

Gay Talese se tornou referência por sua maneira de escrever reportagens, ou de cruzar uma ponte - atos quase sinônimos em 'Fama e Anonimato'.

porWalter Bach
24 de setembro de 2015
em Literatura
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'Fama e Anonimato' e a ponte que Gay Talese cruzou

Imagem: Reprodução.

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Uma cidade onde todos correm em seus cotidianos pautados pela linha de chegada da casa até o trabalho, onde qualquer item fora disso pode ser um obstáculo e não há chance para reparar em ninharias, são segundos valiosos em que a multidão avança bovina e anonimamente à labuta. Pode não existir nada diferente aí, exceto quando o trabalho se torna uma coleta dessas ninharias para depois contá-las em um jornal.

Foi isso que o jornalista Gay Talese fez. A Nova York dos anos 1960 foi explorada em seus textos para a revista Esquire e o jornal The New York Times, reunidos no livro Fama e Anonimato. Detalhes tão comuns quanto ignorados por muitos. Afinal, quem mais além do Talese vai reparar e contar quantas vezes as pessoas piscam por minuto, ou diferenciar a cópia da Estátua da Liberdade da original? O caso da estátua é ainda mais curioso pois exige que as pessoas olhem para cima e reparem na cópia, mas ah, quem olha para cima nessa cidade? Talvez a mesma quantidade de pessoas que vejam o céu da nossa Curitiba,  ou de qualquer outra cidade – sejamos generosos, entre poucos a quase ninguém.

Também quase ninguém notaria os animais próximos aos restaurantes, o movimento do comércio em tardes chuvosas, ou até uma placa levantada por um cobrador anônimo em um ponto de ônibus: “por favor sorria, este trabalho já é duro demais”. Não sobra espaço para gentileza nessa metrópole (e nem em cidade alguma) mas ela esconde de tudo, desde o solo firme ou aquele em vias de se tornar firme, como a ponte Verrazano-Narrows.

Abandonando as definições, tanto por não serem exatas quanto pela falta de mais exemplos adequados à nossa realidade, as histórias não envelhecem e podem ser lidas por pessoas de qualquer área.

“Eles ficam por pouco tempo, apenas enquanto constroem a ponte; depois vão embora para outra cidade, outra ponte, unindo tudo, menos as próprias vidas. Eles pouco têm em comum com os alicerces de suas pontes. São em parte saltimbancos, em parte ciganos – desenvoltos no ar, incansáveis no chão; como se o estradão que se abre para eles lá embaixo não indicasse claramente a direção, como faz o cabo de aço de vinte centímetros de espessura cruzando o céu, 150 metros acima do mar”.

Esse trecho abre uma parte do livro dedicada a construção da Verrazano-Narrows, acompanhada de perto por Talese não apenas como um curioso ao notar máquinas em um ponto chave, mas também porque ele buscou conhecer a realidade de seus anônimos construtores. Suas ambições, condutas, famílias ou a distância delas, o nomadismo de alguns membros, vícios e até rixas entre membros da equipe, universo suspenso na construção da vistosa ponte enquanto mundos particulares são montados ou desmontados enquanto as peças de metal eram ligadas.

Talese não se ateve ‘apenas’ a esses mundos sem nome. Fama e Anonimato contém aquele que provavelmente se tornou seu ensaio mais famoso. O autor tinha de entrevistar Frank Sinatra e recebeu um não diferente de cada pessoa; e enquanto perguntava aos empregados e pessoas próximas do figurão como era a convivência com ele, descobriu o suficiente para compor um perfil do cantor, e também como um resfriado, coisa tão banal, para Sinatra era uma intempérie completa.

Este e os demais livros de Gay Talese são classificados como Jornalismo Literário, um termo controverso para designar uma vertente da profissão que casa a apuração do jornalismo com descrição literária dos fatos. Abandonando as definições, tanto por não serem exatas quanto pela falta de mais exemplos adequados à nossa realidade (algumas reportagens da Eliane Brum e outras publicadas pela revista piauí às vezes são rotuladas “literárias” pelo tratamento de forma e conteúdo, mas ainda é pouco em comparação com a complexidade e até contraditoriedade midiática do nosso país), as histórias não envelhecem e podem ser lidas por pessoas de qualquer área. Não é material técnico para jornalistas, embora seja referência; o livro contém apenas formas de se contar uma história. Ou de cruzar uma ponte.

FAMA E ANONIMATO | Gay Talese

Editora: Companhia das Letras;
Tradução: Luciano Vieira Machado;
Tamanho: 536 págs.;
Lançamento: Abril, 2004.

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Tags: Crítica LiteráriaFama e AnonimatoGay TaleseJornalismoJornalismo LiterárioLiteraturaResenha

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