• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Literatura

‘Ioga’: o mergulho ao inferno interior de Emmanuel Carrère

Livro do escritor Emmanuel Carrère, 'Ioga' aborda seu interesse pela meditação, mas acaba também falando de sua internação psiquiátrica por conta da depressão.

porMaura Martins
29 de março de 2023
em Literatura
A A
'Ioga': o mergulho ao inferno interior de Emmanuel Carrère

O escritor francês Emmanuel Carrère. Imagem: Divulgação.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

É provável que o título de Ioga (tradução de Mariana Delfini, Alfaguara, 2023), obra de não-ficção do escritor francês Emmanuel Carrère, induza alguns leitores ao engano. A palavra talvez sugira que este é um relato sobre os poderes da ioga para a manutenção de uma vida saudável, com dicas de como realizar a prática e descrições detalhadas de seus benefícios.

Não é isto que acontece aqui. Bom, fala-se sim de ioga e meditação, mas Carrère usa o tema (que era a proposta inicial do projeto: fazer um “livrinho” sobre ioga) e acaba utilizando-o como um suporte para falar de assuntos pessoais. Em especial, sobre a própria decadência de sua saúde mental e sua luta contra a depressão e a bipolaridade, culminando em uma internação psiquiátrica de quatro meses.

Construído como uma espécie de diário, trata-se, a bem dizer, de um “livro-mosaico” com quatro linhas narrativas centrais. Na primeira, acompanhamos a ida do escritor em 2015 a um retiro de ioga Vipassana por dez dias. Praticante de meditação há décadas, ele tem o plano de “passar a perna” no isolamento e depois escrever sobre a sua experiência.

Ocorre que, no quarto dia de retiro, uma tragédia acomete o mundo: o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, vitimando 15 pessoas – incluindo um grande amigo de Emmanuel Carrère. Nesta segunda parte, ele é então retirado do espaço em que estava para que possa escrever a elegia no funeral do amigo. Ioga então narra suas impressões sobre todo o caos e os sentidos em torno da falta de sentidos de uma tragédia desse tipo (seria, de fato, uma emergência retirá-lo da ioga?).

'Ioga': o mergulho ao inferno interior de Emmanuel Carrère
Versão brasileira de ‘Ioga’. Imagem: Escotilha/Alfaguara/Reprodução.

O terceiro relato envolve a descida de Carrère ao inferno: o enfrentamento de sua depressão e de sua bipolaridade depois de ser internado pela irmã em um hospital psiquiátrico. Seu estado é tão severo, com alto risco de suicídio, que ele recebe tratamento com eletrochoques. É possível que um homem que tira tanto proveito dos recursos da meditação, e que faz uma longa digressão sobre os seus significados, tenha um interior tão danificado?

A promessa da escrita franca de Emmanuel Carrère, segundo ele pontua várias vezes em Ioga, é encarar a literatura como um lugar onde não se mente. O que chega até nós são as elucubrações de autor sobre vários temas que concernem a muita gente, mas que aqui contam com uma precisão única para narrá-las, o que parece fazer jus à sua boa fama literária.

Ainda não forneça exatamente respostas, as perguntas propostas por Carrère são suficiente ricas para fazer a leitura valer a pena.

Ainda não forneça exatamente respostas, as perguntas propostas por Carrère são suficiente ricas para fazer a leitura valer a pena. Talvez a principal delas, ao menos à minha leitura, seja esta: o que é real acerca do nosso sofrimento mental? Pessoas que sofrem de depressão e melancolia costumam ter a sensação de que a infelicidade é dolorosamente verdadeira, mas que a felicidade é sempre uma ilusão.

A meditação, para Carrère, aparece como uma ferramenta para chegar perto da sonhada clareza mental, tão cara (e rara) a maior parte de nós. Entre os diferentes conceitos que apresenta, ele escreve: “a meditação é observar os pontos de contato entre o que é você e o que não é você. A meditação é o fim das flutuações mentais. A meditação é observar essas flutuações mentais chamadas vritti para acalmá-las e por fim extingui-las (…). A meditação é aceitar tudo que se apresenta. A meditação é não contar histórias para si mesmo”.

Polêmicas

Emmanuel Carrère em sua casa
Emmanuel Carrère, fotografado em 2017 em sua casa parisiense. Imagem: Gueorgui Pinkhassov/Magnum Photos/Reprodução.

Ioga também chegou ao mundo cercado de uma grande polêmica. Na quarta e última parte, Carrére viaja para a Grécia, onde convive com um grupo de refugiados afegãos para quem dá aula de escrita criativa. Isso serve como mote para ele discorra sobre a relatividade do sofrimento (a sua tragédia é maior que deles?) e sobre a necessidade da entrega de si ao outro, como a única forma de poder, de fato, conectar-se à dor alheia.

Ocorre que a ex-esposa do escritor, uma famosa jornalista de TV francesa chamada Héléne Devynck, tem um acordo pós-nupcial que lhe dá o direito de vistoriar e vetar qualquer coisa que Carrère escreva sobre ela e a filha. Por conta disso, Ioga teve trechos cortados. Mas, mais do que isso, ela escreveu um artigo contestando trechos do livro, que é categorizado como de não-ficção.

Héléne mencionou que muito do que o escritor narra não aconteceu, nem que a ida para a Grécia tenha ocorrido depois da internação, conforme apresentado na obra – sugerindo, portanto, que haja um fim de redenção depois que Emmanuel Carrère “atende” os garotos menos favorecidos.

Isso invalida as qualidades de Ioga? Difícil dizer – ainda mais por se tratar um escritor que assume tão explicitamente o compromisso de não mentir. Mas penso que a escrita fluida e envolvente de Carrère, assim como a franqueza com que encara temas tão difíceis, trazem uma característica única à obra.

São questões realmente profundas tratadas nela. Dentre os momentos mais fortes do livro, estão os momentos de desespero em que Carrère resolve consultar um psicanalista ex-jesuíta que ele tem como se fosse um guru. É dele que o escritor recebe o conselho que o libertou das amarras do suicídio: “você tem razão. O suicídio não é muito bem-visto, mas às vezes ele é a melhor solução. Ou então você pode viver”.

Ioga é daqueles livros em que se sente estar entrando em contato com partes de nós que não acessamos frequentemente. Se isso não faz uma obra valer a pena ser lida, eu não sei o que faz.

IOGA | Emmanuel Carrère

Editora: Alfaguara;
Tradução: Mariana Delfini;
Tamanho: 272 págs.;
Lançamento: Fevereiro, 2023.

ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA

Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.

CLIQUE AQUI E APOIE

Tags: AlfaguaraAlfaguara BrasilBook ReviewCharlie HebdoCrítica LiteráriaEditora Alfaguaraemmanuel carrereHéléne DevynckIogaLiteraturaLiteratura FrancesaResenha

VEJA TAMBÉM

'O Amigo' foi o primeiro romance de Sigrid Nunez publicado no Brasil. Imagem: Marion Ettlinger / Divulgação.
Literatura

Em ‘O Amigo’, Sigrid Nunez conecta as dores do luto e do fazer literário

10 de julho de 2025
Michael Cunningham tornou a publicar após anos sem novos livros. Imagem: Richard Phibbs / Reprodução.
Literatura

Michael Cunningham e a beleza do que sobra

8 de julho de 2025

FIQUE POR DENTRO

'O Amigo' foi o primeiro romance de Sigrid Nunez publicado no Brasil. Imagem: Marion Ettlinger / Divulgação.

Em ‘O Amigo’, Sigrid Nunez conecta as dores do luto e do fazer literário

10 de julho de 2025
Michael Cunningham tornou a publicar após anos sem novos livros. Imagem: Richard Phibbs / Reprodução.

Michael Cunningham e a beleza do que sobra

8 de julho de 2025
Roteiro de Joseph Minion foi sua tese na universidade. Imagem: The Geffen Company / Divulgação.

‘Depois de Horas’: o filme “estranho” na filmografia de Martin Scorsese

8 de julho de 2025
O escritor estadunidense Kurt Vonnegut. Imagem: Matthias Rietschel / AP Photo / Reprodução.

‘Um Homem Sem Pátria’: o provocador livro de memórias de Kurt Vonnegut

7 de julho de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.