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‘Laços’ são nós que atam e desatam

'Laços', de Domenico Starnone, autor italiano quase desconhecido no Brasil, traz uma obra pequena e potente sobre aquilo que nos une e nos prende.

porPetê Rissatti
14 de setembro de 2017
em Literatura
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'Laços' são nós que atam e desatam

Imagem: Reprodução.

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Como explica Jhumpa Lahiri na introdução para a versão inglesa, a tradução mais adequada para Lacci, de Domenico Starnone, seria “Cadarços”. Porém, Ties, o título escolhido para a versão norte-americana, teria a mesma miríade de significados do título em italiano, segundo a explicação da autora de O xará (Biblioteca Azul) e tradutora ao inglês da obra. Que também existe no título em português.

E Laços, com tradução de Maurício Santana Dias, lançado pela Todavia, me pegou de jeito na introdução, pois Jhumpa discorre de forma mais ou menos ordenada, mas não menos deliciosa, sobre o livro e sua tradução. O convite feito a ela pelo próprio autor para traduzir o romance após ele ter ganhado do Bridge Prize em 2015, as escolhas e dificuldades durante a tradução, seu mergulho ainda mais fundo na língua italiana, que ela escolheu para substituir o inglês de uma vida toda durante alguns anos, todos esses fatos já começam a se entrelaçar e preparar a rede de segurança do leitor para as próximas 142 páginas.

É difícil não se reconhecer no casal Aldo e Vanda, ao menos em alguma frase, em algum momento, em algum desespero ou felicidade.

A verdade napolitana

Não canso de repetir que, para mim, livro bom é livro no qual a gente acredita nos personagens. Livro nos quais eles tomam vida, se erguem e mostram algumas coisas, não outras, e nos confundem, nos alegram, nos enfurecem. E até mesmo entregam o ouro antes do tempo, como acontece neste livro de Starnone, mas ainda assim queremos acompanhar até o fim, saber os porquês, tentar com isso compreender um pouco mais da nossa natureza, de nossas possibilidades, de um possível futuro. E é difícil não se reconhecer no casal Aldo e Vanda, ao menos em alguma frase, em algum momento, em algum desespero ou felicidade. Para quem leu a série A amiga genial, da misteriosa Elena Ferrante, vai redescobrir a cidade de Lina e Lenu e também descobrir que a pessoa sai de Nápoles, mas Nápoles não sai das pessoas.

Acharam que eu não falaria dela, não é?

Pois Starnone é o marido de Anita Raja, tradutora e autora que supostamente está por trás do fenômeno Elena Ferrante. Diferente do jorro belo que é a escrita de Ferrante, Starnone é mais econômico, mais enxuto, mas não menos envolvente. Laços é aquele tipo de livro que em inglês se chama page turner, que não dá para largar.

Liberdade e queda

Aldo e Vanda, o casal que protagoniza Laços, estão juntos há mais de cinquenta anos, tempo suficiente para que o cotidiano se infiltrasse em cada fresta da vida. Porém, os dois não sofreram apenas a ação implacável do tempo, mas também com as revoluções do fim dos anos 1960, inclusive a sexual, que de certa forma à época abalaram o jovem casal, já com os filhos, Sandro e Anna, e as dificuldades inerentes à formação de uma família. Sobreviveram aos trancos e barrancos às viradas e aos chacoalhões da vida e desfrutam de uma velhice confortável.

Confortável quer dizer feliz? Confortável quer dizer amena? Talvez sim. Muitas vezes não.

Depois de um delicioso fim de semana na praia – após alguns eventos bastante estranhos –, Vanda e Aldo voltam para casa e a encontram de pernas para o ar. Tudo o que Vanda defendia, o lar cuidadosamente arrumado e organizado, tudo o que Aldo adorava, a tranquilidade do lar e o passado que ele acalentava, destruído. Labes, o adorado gato de Vanda, desaparece. E o desespero se reinstala para o casal. Para Vanda, aqueles que trouxeram o vendaval ainda estavam por perto, à espreita, prontos para dar um novo bote. Para Aldo, o passado que ainda lhe mantinha vivo desaparecera, dando lugar ao vazio mais profundo que se pode imaginar.

Qual o próximo passo? Essa é a pergunta que resta.

Entrelaços

Laços é um pouco como uma colcha de retalhos bem cerzida. Entre cartas de fúria apaixonada e lembranças de um passado que ainda dói, Starnone vai alinhavando algumas certezas durante o livro. Porém, tudo no romance é linha, é frágil, e de um momento para o outro essas certezas se desfazem e o que era sólido se liquefaz. Hora de se reerguer, se recompor, dar um novo nó para se segurar e em seguida desatar um que está nos prendendo.

Assim como a vida, esse sopro, o romance curto se estende por cinco décadas e mostra as ligações tênues e ínfimas da família. De núcleo firme da sociedade à célula disforme e abandonada, enxergamos o que não queremos em nossos entes querido, em nós mesmos, nas famílias alheias. A normalidade aparente dá lugar ao insano, ao perverso, e percebemos que somos todos feitos com os mesmos fios. Que uns são mais fortes e aguentam as intempéries, outros são mais frágeis e se rompem à menor brisa, como teia de aranha.

Acredito que esteja aí a beleza da escrita de Domenico Starnone.

LAÇOS | Domenico Starnone 

Editora: Todavia;
Tradução: Maurício Santana Dias e Rafael Mantovani (introdução);
Tamanho: 148 págs.;
Lançamento: Agosto, 2017.

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Tags: Anita RajaCrítica LiteráriaDomenico StarnoneElena FerranteLaçosLiteraturaLiteratura ContemporâneaLiteratura ItalianaResenhaReviewTodavia

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