E se pudéssemos saber do próprio Pedro Álvares Cabral os detalhes da viagem de Portugal até a descoberta do Brasil? E se lêssemos palavras (até de baixo calão) de Tiradentes? Ou, talvez, o próprio Dom Casmurro nos esclarecer o que realmente aconteceu entre ele, Capitu e Escobar, no romance de Machado de Assis?
Foi tudo isso, e otras cositas más, que Mario Prata tirou a limpo em uma série de entrevistas que realizou para a Revista Brasileiros. Entre os personagens, apenas ilustres e históricos. Aleijadinho, D. Pedro I, Carlos Gomes, Charles Miller, Padre Anchieta, Rui Barbosa e Dona Beja, por exemplo. São conversas rápidas, uma série de bate-papos inéditos, talvez por seus grandes níveis de improbabilidade. Essas conversas foram reunidas no livro Mario Prata Entrevista Uns Brasileiros, publicado pela editora Record e lançado oficialmente no último domingo.
A série de entrevistas fictícias se transformou em uma obra leve, engraçada e de simples leitura, repleta de inserções cômicas, como comentários do autor/entrevistador. Pedro Álvares Cabral, o primeiro entrevistado, tem de explicar a Prata sua suposta relação com Paulo – pasmem! – Maluf. Também comenta suas desavenças com contemporâneos. Afinal, os idos eram de 1.500, mas as intrigas e desentendimentos já existiam. Cabral, então, denuncia Américo Vespúcio e Cristóvão Colombo. “Eram italianos. Queriam fama e poder! Colombo só pensava em grana. Sua expedição foi custeada pela coroa espanhola e pelos banqueiros”, afirma ao entrevistador Mario Prata.
Já Carlos Gomes faz uma crítica análise sobre os hábitos brasileiros. Para ele, o problema é, e sempre foi, a Educação. “Desde o império. É impressionante. Um país sem educação é um país sem cultura. Então, veja o que são os livros mais vendidos hoje e as músicas mais vendidas. Um país sem educação merece ficar de castigo. É isso: em termos musicais e literários, a população está de castigo, ouvindo e lendo errado! Que fique claro que foste tu que me mandaste dizer isso”, esbraveja o compositor campineiro.

A série de entrevistas fictícias se transformou em uma obra leve, engraçada e de simples leitura, repleta de inserções cômicas, como comentários do autor/entrevistador.
A versatilidade de Mario Prata fica clara nesta obra. O autor transita pela comédia com naturalidade e sua trajetória comprova tudo isso. Prata foi autor e colaborador do roteiro de novelas como Bang Bang (2005). Em seu currículo estão mais de 3 mil crônicas e 80 títulos publicados. São 50 anos de carreira como escritor, dramaturgo, cronista, roteirista e jornalista. Uma história artística e profissional construída em sólidas bases.
Em Mario Prata Entrevista Uns Brasileiros, conhecemos um pouco mais dos personagens da história do Brasil, a partir do olhar satírico e criativo do autor. As entrevistas imaginárias são surpreendentes, pela informalidade e questionamentos que envolvem uma falsa realidade inacreditável. A leitura compensa. Dá para sorrir ao caminhar das páginas. Dá para se sentir no restaurante de Ouro Preto, sentando-se à mesa junto de Prata e Tiradentes.
E se a realidade, hoje, nem tanto agrada os brasileiros, as fictícias entrevistas com essas personagens podem, pelo menos, nos divertir com a história de nosso país.
MARIO PRATA ENTREVISTA UNS BRASILEIROS | Mario Prata
Editora: Record;
Tamanho: 248 págs.;
Lançamento: Maio, 2015 (4ª edição).
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