Com pouco mais de 30 anos, o escritor suíço Joël Dicker é um dos grandes fenômenos e festejos literários dos últimos anos. Seu livro, A Verdade sobre o caso Harry Quebert, fez seu nome figurar no panteão das promessas. Comparado aos medalhões Philip Roth e Jonathan Franzen – ainda que não tenha a inventividade do primeiro e a grandiloquência do segundo –, Dicker carrega consigo a grande responsabilidade de “não ser uma literatura de banheiro”, como o definiu Joca Reiners Terron.
O Livro dos Baltimore, seu mais recente livro publicado no Brasil, infelizmente não consegue apagar a ideia de uma literatura pueril e insossa. Marcus Goldman, protagonista de A Verdade sobre o caso Harry Quebert, é reavivado no livro, que resgata o passado – antes de escrever o best-seller G de Goldstein. Dicker tenta fazer de seu insípido personagem uma espécie de Nathan Zuckerman, mas falha ao criar um homem volúvel e sem personalidade.
O livro, que é pontuado por tragédias e enlaces puramente emocionais ao melhor estilo da literatura de supermercado, é recheado de frases que parecem armadas e não construídas, o que demonstra certa falta de talento por parte de Dicker:
“O socorro não conseguiu reanimar o coração de Scott, cuja morte foi constatada no gramado do estádio de Bukerry. As aulas do dia seguinte foram suspensas em Buckerry High e foi montado um posto de atendimento psicológico. Conforme os alunos chegavam ou local, eram encaminhados ao auditório, enquanto alto-falantes transmitiam incessantemente a mensagem do diretor Burdon (…).”
Ou ainda pior:
“Nas noites em que jantava na casa dos Goldman, Woody insistia em voltar de ônibus para a instituição. Tive medo de que, de tanto paparicá-lo, os Goldman se cansassem e o expulsassem. Mas tia Anita o proibia de volta sozinho. Era perigoso.”
Dicker faz, daquela que poderia ser sua tábua de salvação, uma grande bigorna em alto-mar.
A trama central d’O Livro dos Baltimore desperta certo desejo: a história dos primos Marcus, Hillel e Woody, a Gangue dos Goldman, que, apesar de suas diferentes naturezas, precisam aprender juntos a crescer para tornarem-se homens. Entre traições, paixões e medos, o trio amadurece de maneira irregular e acabam por se afastar. Joël Dicker emula um romance de formação, esbarrando em um discurso piegas e mal construído. Não é de surpreender que tenha sido acusado de plagiar Roth, criando um pastiche barato do romancista norte-americano. Certamente, a Suíça deve ter literatura melhorar a oferecer.
Quebra-cabeça
O que se percebe em Joël Dicker é um compêndio – grande – de tentativas frustradas. Ao escolher a fragmentação da narrativa, o escritor não chega a criar pontos desconexos, mas parece não ter se esmerado como deveria na construção de um ritmo: fica sempre a impressão de haver peças faltando no quebra-cabeça.
O Livro dos Baltimore é uma obra que se perde em si mesma e, apesar de conectada a outra, habita um universo distinto. Dicker faz, daquela que poderia ser sua tábua de salvação, uma grande bigorna em alto-mar.
O LIVRO DOS BALTIMORE | Jöel Dicker
Editora: Intrínseca;
Tradução: André Telles;
Quanto: 416 págs.;
Lançamento: Janeiro, 2017.