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A brutalidade velada em ‘A Pianista’

Com uma visão obscura sobre o mundo da música na Áustria, Elfriede Jelinek desconstrói a sociedade perfeita em 'A Pianista'.

porYuri Al'Hanati
16 de abril de 2015
em Literatura
A A
A Pianista
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Em 2004, Christina Weiss, ministra da cultura da Alemanha, disse que os textos da escritora austríaca Elfriede Jelinek são um evento linguístico. Talvez tenham sido as palavras mais acertadas para descrever a efusão literária da autora de A Pianista, publicado originalmente em 1983 e lançado este ano pelo selo editorial Tordesilhas. É o primeiro livro traduzido de Elfriede, prêmio Nobel de Literatura 2004. O melhor adjetivo para descrever A Pianista é “brutal”. Com uma visão um tanto dark sobre o mundo da música na Áustria – assunto com o qual não se brinca naquele país –, Elfriede desconstrói a fachada de sociedade perfeita para revelar um universo de patologias clínicas das mais graves, causadas por uma clausura que se mascara com o belo, uma gaiola de ouro.

A história gira em torno da professora de piano Erika Kohut, e de sua mãe, cujo nome não se menciona, pois não é de fato uma mãe. Trata-se apenas de uma força opressora que transfere para a filha as frustrações e mesquinharias de sua própria vida. A própria Erika, porém, não é apenas uma vítima. Amargurada por nunca chegar a ser mais do que uma intérprete e, sentindo-se denegrida por ter de se rebaixar a dar aulas para alunos iniciantes, a protagonista destila sua perversidade ao fazer questão de machucar a todos os passageiros do bonde que pega com suas caixas de instrumentos, por maldade, ou certifica-se de que os alunos não se desenvolvam o bastante a ponto de superar a mestra.

A vida de Erika começa a mudar quando um dos alunos, o jovem Walter Klemmer, inicia com ela um lento jogo de sedução. Há então uma transferência de perversidade: a professora, que revela todas as suas piores taras sexuais, passa a ser vítima também da juventude e da dominação que se revela pouco a pouco em Klemmer, que se torna um sádico. O romance então faz uma viagem ao último dos círculos do inferno, mostrando o tormento de Erika com a agressividade da mãe, que não raro chega às vias de fato, e a maldade do aluno, que, de dominado, passa a dominar todos os aspectos da vida da professora.

Com uma visão um tanto dark sobre o mundo da música na Áustria – assunto com o qual não se brinca naquele país –, Elfriede desconstrói a fachada de sociedade perfeita para revelar um universo de patologias clínicas das mais graves, causadas por uma clausura que se mascara com o belo, uma gaiola de ouro.

A trama é costurada por um estilo impecável da literatura de Elfriede Jelinek. Cada linha de oração tem uma força extraordinária, e não há um relaxamento na intensidade com que descreve mesmo as passagens mais serenas. Utilizando construções pouco usuais, Elfriede faz uma literatura portentosa em que as frases se apoiam umas nas outras para, juntas, arrebatarem o leitor. Diferentemente de um livro de Oscar Wilde, por exemplo, onde cada oração tem força independentemente das outras. A autora trabalha a brutalidade do texto de maneira sólida. Isso, logicamente, faz parte da intenção de explorar a violência em seu estado psíquico, que extrapola para a agressão física: Erika pega gosto por se cortar com uma faca e briga com a mãe, arrancando-lhe os cabelos.

A Pianista foi adaptado para o cinema em 2001, pelo diretor austríaco Michael Haneke, diretor de filmes tanto belos quanto perturbadores, como A Fita Branca, Caché e O Sétimo Continente. No filme A Professora de Piano, a atriz francesa Isabelle Huppert faz o papel de Erika, em uma atuação que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes. O filme ainda ganhou o Grande Prêmio do Juri pela direção de Michael Haneke.

Texto publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo em 11/06/2011.

A PIANISTA | Elfriede Jelinek

Editora: Tordesilhas;
Tradução: Luis Sergio Krausz;
Tamanho: 336 págs.;
Lançamento: Maio, 2011.

Tags: A PianistaA Professora de PianobannerCríticaCrítica LiteráriaElfriede JelinekIsabelle HuppertLiteraturaMichael HenekeNobel de Literatura

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