• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Literatura

‘Ricardo e Vânia’ e a via crucis do corpo

Comovente e audacioso, 'Ricardo e Vânia', de Chico Felitti, revela muito a psique humana sem, necessariamente, querer analisá-la.

porJonatan Silva
27 de março de 2019
em Literatura
A A
'Ricardo e Vânia' e a via crucis do corpo

Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

A pouco mais de 230 km de São Paulo, a cidade de Araraquara, no início da década de 1980, era pequena e provinciana demais para suportar a revolução que Ricardo Correa da Silva e Vagner Munhoz estavam ansiosos em causar.

Extravagantes, ousados e visionários, os dois cabeleireiros passeavam de bicicleta pela cidade maquiados e com o cabelo em cores saturadas como em filme do Almodóvar. Tudo isso muito antes de Boy George ou de Madonna levarem a cultura das boates gays para o mainstream.

Anos mais tarde, Ricardo ficaria conhecido como Fofão da Augusta, um andarilho da região central paulistana, e Vagner se tornaria Vânia, uma prostituta em Paris. Duas vidas que se cruzaram por acaso e provocaram terremotos por onde passaram. No final de 2017, uma reportagem de Chico Felitti para o BuzzFeed sobre a vida de Ricardo se tornava coqueluche e viralizava no Facebook. Em poucos minutos, Ricardo abandonava a sua aura mitológica – e ao mesmo tempo anônima – e ganhava novamente uma identidade. “Fofão da Augusta? Quem me chama assim não me conhece”, anuncia o perfil. E Ricardo tinha razão.

A caixa de e-mails de Felitti começou a pipocar com histórias e depoimentos sobre Ricardo, que morreu dois meses depois de a matéria ser publicada. Havia muito mais o que falar sobre o seu personagem enigmático, que podia ir de uma calorosa conversa em francês a surto de esquizofrenia em minutos. Ricardo e Vânia, publicado pela Todavia, é mais que uma biografia sobre dois anônimos: é um manifesto a todos que, de alguma forma, estão ou são marginalizados.

Percorrendo as ruas de Araraquara, São Paulo e Paris, Felitti, sempre acompanhado da mãe, faz uma via crucis do corpo. Coincidência e muita conversa vão carregando o autor até os rios dessa história de amor, ao melhor modo de Joseph Mitchell, como bem lembrou Michel Laub em um texto para o Valor Econômico.

Ricardo e Vânia é um livro comovente e audacioso, capaz de revelar muito da psique humana sem, necessariamente, querer analisá-la.

Memória

Ricardo e Vânia depende sempre da memória alheia e as informações se cruzam para formar um retrato emocionante de um homem que só foi chamado artista depois de morrer. Antes, estampou o Notícias Populares – aquele mesmo que publicou o nascimento do bebê-diabo – depois de ter um surto e roubar joias de uma casa de penhor na Avenida Paulista.

Felitti resgata mais que uma história embebida em (muito) silicone – que deformaria o rosto do casal e seria a causa do apelido de Ricardo – e (algumas) drogas.

Em certa medida, o livro está dividido em duas partes: uma sobre Ricardo e outra a respeito de Vânia. A primeira vai até a página 103. Dali em diante, é Vânia quem protagoniza a biografia. A fronteira é imaginária, não passa de uma linha tênue a dividir vidas.

Como é na realidade. Felitti conduz o leitor com cuidado em uma viagem à França. É de lá que escrutina as muitas vidas de Vânia – que foi Babette, Vênus, Venúsia, Kara, Hara, mas que, no fundo, queria somente ter o rosto de uma boneca de porcelana chinesa.

Ricardo e Vânia é um livro comovente e audacioso, capaz de revelar muito da psique humana sem, necessariamente, querer analisá-la. O jornalista criou um texto que emociona, mas consegue revelar bom humor e leveza em uma história complexa, imprecisa e impossível de ser completamente decifrada.

Como fez Janet Malcolm no perfil de David Salle, Felitti traça começos e recomeços de vidas que, inventadas ou não, são completamente verdadeiras. Ricardo e Vânia é a ponta de um grande iceberg.

RICARDO E VÂNIA | Chico Felitti

Editora: Todavia;
Tamanho: 192 págs.;
Lançamento: Fevereiro, 2019.

VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?

Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.

Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.

Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.

CLIQUE AQUI E APOIE

Tags: bookBook ReviewBuzzFeedChico FelittiCrítica LiteráriaEditora TodaviaFofão da AugustaJornalismo LiterárioLiteraturaReportagemResenhaRicardo e Vânia

VEJA TAMBÉM

Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.
Literatura

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Nascido em Fortaleza, o escritor Pedro Jucá vive em Curitiba. Imagem: Reprodução.
Literatura

‘Amanhã Tardará’ emociona ao narrar o confronto de um homem com seu passado

28 de maio de 2025

FIQUE POR DENTRO

Calçadão de Copacabana. Imagem: Sebastião Marinho / Agência O Globo / Reprodução.

Rastros de tempo e mar

30 de maio de 2025
Banda carioca completou um ano de atividade recentemente. Imagem: Divulgação.

Partido da Classe Perigosa: um grupo essencialmente contra-hegemônico

29 de maio de 2025
Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Rob Lowe e Andrew McCarthy, membros do "Brat Pack". Imagem: ABC Studios / Divulgação.

‘Brats’ é uma deliciosa homenagem aos filmes adolescentes dos anos 1980

29 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.