Sijô – Poesiacanto coreana clássica (tradução de Yun Jung Im e Alberto Marsicano, Iluminuras) é uma coletânea com 101 poemas clássicos coreanos. O sijô foi uma forma poética consolidada no Século XIII, vigente até 1910, com raízes em cantos budistas chineses.
Durante 400 anos, desde sua consolidação, foram transmitidos oralmente. No século XVIII, foram compilados em uma antologia. Então, o poema havia se tornado muito popular, sendo cantado por andarilhos e prostitutas. O sijô surgiu na transição do Budismo para o Confucionismo. Nos primeiros tempos, os cantos são permeados pela ideologia confucionista.
O sijô foi uma forma poética consolidada no Século XIII, vigente até 1910, com raízes em cantos budistas chineses.
A forma do poema é uma composição de três versos com cerca de 45 sílabas. O tema é apresentado no primeiro verso e desenvolvido no segundo. O terceiro verso apresenta uma antítese ou a solução de um impasse. O caráter musical predomina sobre o visual.
A tradução é dividida em quatro temas: “Prazeres e Desprazeres”, “Caminhos da Lealdade”, “Aprendizagens e Ensinamentos” e “Além do Mundano”. “Prazeres e Desprazeres” inclui cantos sobre amores, desamores, frustrações, alegrias, iras, a sabedoria da resignação e do desapego. Alguns destes poemas eram escritos por gui-seng, prostitutas de alto nível, letradas e aptas às várias formas de arte, como Han U:
Por que dormir
tremendo de frio?
Por que dormir
numa cama fria?
Por que deixar de lado
a colcha bordada
com motivos
de Wón-ang?
Tomaste chuva fria hoje
Por que não dormes
recolhido no calor?
Outros sijô são de autoria anônima, provavelmente escrito por mulheres:
Meu amado
é como o trovão
E o nosso encontro
como um raio
num vai e vem mútuo
que nem chuva repentina
E nos despedimos –
nuvens que se dissipam
Do meu coração floresce uma névoa
feita de
suspiros
Sob o tema “Caminhos da Lealdade”, reúnem-se sijôs em que predominam a pregação sobre firmeza e correção, o espírito do homem de virtudes, a fidelidade e a devoção ao Rei governante. Dentro deste tema, há um poema do século XV particularmente interessante, escrito por Kim Gu, que ocupou um alto cargo político e foi injustamente acusado de traição. Mandado ao exílio, lá ficou por 13 anos:
Kim Gu (1488-1543)
Até que as pernas
curtas do pato
se tornem
as do grou
Até que a gralha
negra
se torne garça
branca
Que a boa ventura o acompanhe
por um bilhão
de anos
O sijô ressoa o poema do Hino Japonês, que data do século IX. Esta é uma de suas traduções:
Que o reinado do Imperador
Dure por mil, oito mil gerações
Até que os pequenos seixos
Se tornem fortes rochas
E os musgos venham a cobri-las
“Aprendizagens e Ensinamentos” reproduz ensinamentos confucionistas, como estes, da Mãe de Jóng Mong-ju, para prevenir o filho contra facção rebelde de um general e aconselhá-lo na lealdade à dinastia vigente; as aves em contraste emblematizam o conflito político:
Garça
não vás
onde brigam
os corvos
O corvo
irado
inveja
o branco
Temo que macule o teu corpo
lavado com esmero
nas águas azuis
“Além do Mundano” reúne sijôs que cantam a vida espiritual. Entre os poemas, há os anônimos, provavelmente de autoria feminina:
Sem calendário
em meio às montanhas
não sei da mudança
das estações
Quando floresce
é primavera
Quando caem folhas
é outono
E quando as crianças pedem roupas grossas
sei que é inverno
Yun Jung Im é mestre em Literatura Coreana na Universidade de Yonsei e doutora em Comunicação e Semiótica na PUC-SP. Traduziu O pássaro que comeu o sol (antologia de poesia moderna coreana).
Alberto Marsicano é músico, poeta e tradutor. Traduziu Haikai e Escritos de William Blake. Publicou os livros de poesia Idiomalabarismo e Sendas Solares. Como citarista foi discípulo de Ravi Shankar e Krishna Chakravarty.
SIJÔ – POESIACANTO COREANA
Editora: Iluminuras;
Tradução: Yun Jung Im e Alberto Marsicano;
Tamanho: 144 págs.;
Lançamento: 1994.