Quando Jennifer Egan publicou A Visita Cruel do Tempo, em 2010, foi automaticamente alçada ao título de Ian McEwan de saias – como se fosse preciso ser homem para ter talento. Àquela altura, quando o #metoo nem engatinhava, toda a sua produção anterior, negligenciada até então, tornou-se alvo de curiosidade e delírio.
O Torreão, originalmente colocado nas prateleiras em 2006, começou a chamar a atenção. Ainda que não atinja a genialidade daquela que, dizem os críticos, é sua obra-prima, o livro consegue imprimir algum suspense ao narrar a história dos primos Danny, um hipster cínico de 36 anos, e Howard, um empreendedor de fachada, envolvidos na reforma de um castelo na Europa Ocidental.
Howard, que pretende transformar o lugar em um hotel de luxo, é um sujeito excêntrico, capaz de se aproveitar da boa vontade, e do desespero do primo por dinheiro, para colocar em seu plano em prática. Egan usa o imaginário gótico para criar um cenário sombrio ou uma prosa mórbida à la Poe. Longe de ser decepcionante, a obra, entrementes, não é exatamente um mistério clássico, mesmo que emule os elementos do gênero.
Quando Jennifer Egan publicou A Visita Cruel do Tempo, em 2010, foi automaticamente alçada ao título de Ian McEwan de saias – como se fosse preciso ser homem para ter talento.
Ann, esposa de Howard, e Benjy, filho do casal, são personagens secundários que ajudam a evidenciar o caráter escuro e, por que não?, bizarro d’O Torreão. O mistério começa justamente quando a reforma chega à parte do castelo que dá nome ao livro. O terrão, uma torre frontal cujo principal objetivo é funcionar como observatório, é um cômodo singular. A sensação de Danny ao chegar lá já denuncia que algo pode estar – muito – errado. A partir desse encontro macabro, Jennifer Egan estabelece um pacto de silêncio com o leitor: à medida que seu protagonista tenta escapar desse labirinto, obstáculos se amontoam para impedi-lo.
Não é preciso criar justificativa plausível para nada daquilo; ao contrário, as situações são avalanches que aprisionam Danny nesse pesadelo moderno. Se em Nova York ele estava encerrado na conexão wi-fi da metrópole, o grande mal do século, no castelo Danny se depara com uma conspiração invisível. Alternando entre a realidade e o surreal, é impossível distinguir ambos. E, realmente, não é necessário: ninguém espera respostas concretas da ficção contemporânea. As perguntas, talvez, sejam a grande questão.
O Torreão está para a bibliografia de Egan assim como Ao Deus Dará está para a de McEwan – as obras, inclusive, se entrelaçam na maneira como a suspensão narrativa é construída. O grande trunfo é, justamente, a capacidade da escritora de conduzir o leitor pela mão e colocá-lo no colo.
[box type=”info” align=”” class=”” width=””]O TORREÃO | Jennifer Egan
Editora: Intrínseca;
Tradução: Rubens Figueiredo;
Tamanho: 240 págs.;
Lançamento: Junho, 2012.
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