Poderia ter a maior importância por ser o livro favorito das misses, mas foi o presente da melhor amiga. Mereceu, por esta última razão, a leitura atenta. Leitura tardia, também, por pura preguiça dos clássicos. Por pura preguiça ao preferido livro das mulheres mais bonitas. Mas, com boas duas décadas de atraso, conheci O Pequeno Príncipe. E este texto não é apenas para resenhar suas já conhecidas páginas. Velhas de guerra, com ou sem aquarelas do próprio autor, Antoine de Saint-Exupéry. É também um pedido de desculpas às histórias tradicionais, sacramentadas.
Talvez a aversão à leitura de clássicos tenha nascido na escola mesmo. Quando obrigados, os livros amigos podem se transformar em inimigos. Em ódio à primeira vista. Em implicância à linguagem rebuscada. Em preconceito aos elogios históricos. Tenha sido, talvez, a obrigatoriedade, a responsável por me manter por tanto tempo longe do principezinho loiro, morador de um planeta tão pequeno, onde só lhe cabe.
O Pequeno Príncipe não é uma história para crianças, sobre criança, nem uma fábula para boi dormir. Pode ter o valor da perpetuidade em seu enredo atemporal. Cabia como uma luva em situações de 1943, ano em que foi escrito. Continua a servir perfeitamente, com suas metáforas e personagens legendários, 72 anos depois. É muito tempo. É tempo suficiente para que a famosa frase “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, dita pela raposa, se adapte. Na vida digital de 2015, poderia tranquilamente se transformar em “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que compartilhas”. E por aí seguir.
O Pequeno Príncipe não é uma história para crianças, sobre criança, nem uma fábula para boi dormir.
O conteúdo político e filosófico é grande para uma obra de apenas 91 páginas recheadas de ilustrações, na edição lançada pela Editora Agir. Eu escrevi edição? Quis dizer 48a edição. Quarenta e oito edições de uma obra que ainda é vendida e popular nos estandes de feiras, que está entre os destaques nas livrarias, e que é lida e relida por pais e filhos.
O enredo é cativante. Um piloto de avião renunciou à carreira artística logo aos seis anos de idade, quando desenhou um elefante engolido por uma jiboia que, na verdade, foi interpretado como um chapéu. A falta de compreensão de sua “obra” foi suficiente para que decidisse deixar o papel de lado e se aventurasse pelos ares. Já adulto, voando, seu avião sofre uma pane no deserto do Saara. O piloto, então, adormece ao tentar consertá-lo. É acordado por um pequeno rapazinho, de cabelos dourados, que lhe pede para desenhar um carneiro.
O pedido é feito pelo pequeno príncipe, que é apresentado nas páginas seguintes. Mora no Asteroide B 612, que, de tão pequeno, lhe permite assistir ao pôr-do-sol 43 vezes ao dia, seja para se divertir ou para diminuir sua tristeza, nos maus dias. São entrelinhas, mistérios e uma história que se perpetua por gerações. É difícil encontrar quem nunca tenha ouvido falar sobre o pequeno príncipe. Felizmente não faço mais parte desse pequeno grupo.
Longe de ser miss, apenas me familiarizei com a leitura de um livro popular ao longo dos anos. São mais de 143 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. É a obra mais traduzida do planeta, atrás apenas da Bíblia. O pequeno príncipe virou decoração de quarto, de festa infantil, ganhou versões para o cinema, para a TV, para o teatro. Passou a fantasia para as crianças pularem o carnaval. Se mantém, após sete décadas, intocável nas principais listas de livros nos quatro cantos da Terra.
Difícil encontrar explicação megalômana para tamanha simplicidade de suas história e linguagem. Fácil reconhecer que, mesmo sendo um conhecido clássico infantil, aos 26 anos foi a primeira vez em que me coloquei diante de uma tradicional obra de filosofia.
Se cativar é a palavra, se era o objetivo, decerto os milhões de cópias já produzidas continuarão a se multiplicar nos próximos anos.
O PEQUENO PRÍNCIPE | Antoine de Saint-Exupéry
Editora: HarperCollins;
Tradução: Dom Marcos Barbosa;
Tamanho: 96 págs.;
Lançamento: Agosto, 2018 (atual edição).
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