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O duelo de classes em ‘Suíte Tóquio’, de Giovana Madalosso

Novo romance da escritora Giovana Madalosso, 'Suíte Tóquio' desenvolve a história de um rapto a partir de duas protagonistas mulheres.

porMaura Martins
15 de outubro de 2020
em Literatura
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Giovana Madalosso, autora de Suíte Tóquio

A escritora Giovana Madalosso. Imagem: Divulgação.

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Suíte Tóquio, nova obra de Giovana Madalosso (autora de Tudo pode ser roubado), centra-se em uma espécie de duelo. De um lado, temos a humilde Maju, membro daquele invisível “exército branco” formado pelas babás, empregadas e funcionários de todos os tipos cuja principal função social é auxiliar as pessoas de classe média/ alta que habitam o país. Em oposição, há a hipster Fernanda, uma empresária bem-sucedida na área do cinema, que contrata Maju para dar conta de uma parte de sua vida com a qual não consegue lidar muito bem: os cuidados e a criação da filha Cora.

Neste duelo, a tensão está presente desde o começo da história contada em Suíte Tóquio. Poderíamos dizer que a trama se inicia pelo ápice: Maju, já no primeiro capítulo, está sequestrando a menina Cora, e Fernanda e seu marido Cacá demoram a perceber que o que está ocorrendo neste dia fatídico não é apenas um passeio da filha e da babá, em quem confiam totalmente. Ainda que o livro se desenrole a partir do clímax, a narrativa só cresce a partir de um recurso inusitado. Giovana Madalosso se intercala tempos narrativos (entre o presente e os flashbacks) e pontos de vista (cada capítulo narra ora o olhar da babá, ora o da patroa – por isso a sensação de um duelo).

Trata-se de um livro delicioso, cuja experiência de leitura é envolvente e fluida. Aos poucos, Suíte Tóquio vai desenrolando uma história complexa em que os conflitos de classe estão pungentes. A verdade é que Maju e Fernanda representam lados opostos, sinalizando uma vida de privilégios e a existência a partir da falta deles. O tom, portanto, é de uma revolta velada: o sequestro da menina tem um certo sentido de acerto de contas, uma vez que a mulher que tem tudo – a carreira, a filha, o marido, o dinheiro – parece não dar valor ao que conquistou (ou então recebeu gratuitamente).

A verdade é que Maju e Fernanda representam lados opostos, sinalizando uma vida de privilégios e a existência a partir da falta deles.

A suíte do título do livro, aliás, tem a ver com o quarto de empregada montado por Fernanda, espaço simbólico que ilustra os abismos entre as classes. Na casa da patroa, esta suíte tem um tom de expiação da culpa: teoricamente, ela é contra o papel de “escravidão” à qual submete a babá, ao mesmo tempo que não pode viver sem ela se quiser realizar os seus objetivos. Por isso (e tem noção dessa atitude), monta um quarto todo arrojado, a que apelida de “suíte Tóquio”, para minimizar a exploração da funcionária. Ter ciência desse problema torna Fernanda uma pessoa menos nociva? São questões subjacentes pelo romance e que permanecem inquietando o leitor.

Um dos grandes trunfos do livro é a ausência de um tom moralista que poderia cercar as personagens. Enquanto a mulher rica enfrenta o vazio de uma existência cercada de conquistas, a pobre não está envolta por lições de moral de que uma vida “simples” vale a pena. Fernanda se agarra a símbolos de classe – usa o bom salário que tem para comprar uma tela caríssima de Adriana Varejão e adquire um carro por impulso – mas continua atrelada à ausência de sentido. Já Maju se prende à pretensa ajuda da “Nega”, Nossa Senhora Aparecida, e segue empurrando sua vida para a frente pela falta de opções melhores.

Há ainda uma tensão adicional à trama, pois o rapto serve também para fazer com que o casal encare a crise em seu casamento enfadonho, marcado por questões sexistas. Cacá, o marido, reúne características estereotipadas do feminino: é pacífico, não trabalha e cuida da casa, não tem ambições profissionais. Fernanda está o tempo todo em conflito, entre acomodar sua carreira meteórica aos papéis direcionados socialmente a ela. O trabalho pede cada vez mais, em troca de que ela se dedique cada vez menos a Cora (afinal, Fernanda quis – e quer – ser mãe?). Como uma espécie de balde de água gelada despejado na cabeça de alguém que dorme, o sequestro aos poucos acorda o casal para a sua realidade.

Impactante, Suíte Tóquio é uma obra com múltiplas camadas, com olhares femininos díspares provocados pelas duas protagonistas, e capaz de seguir incomodando o leitor depois que ele encerra o livro. Em suma, um romance imperdível.

SUÍTE TÓQUIO | Giovana Madalosso

Editora: Todavia;
Tamanho: 196 págs.
Lançamento: Setembro, 2020.

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Tags: Book ReviewCrítica LiteráriaEditora TodaviaGiovana MadalossoLiteraturaLiteratura BrasileiraResenhaRomancesuite tóquioTodaviaTudo por ser roubado

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