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Home Literatura

A experiência fundamental de Primo Levi

porAdriano Abbade
14 de setembro de 2018
em Literatura
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Auschwitz Primo Levi

Entrada do campo de Auschwitz, na Polônia. Imagem: Valeriy Melnikov.

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Poucas obras que se debruçaram sobre o tema do Holocausto ou tentaram descrever a vida nos Campos de Extermínio durante a Segunda Guerra Mundial alcançaram tamanha sensibilidade e realismo estético como É isto um homem?, do italiano Primo Levi (1919 – 1987). Sobrevivente de Auschwitz, Levi relata com uma linguagem concisa e intercalada de profundas observações de natureza ética e moral, o cotidiano nos campos de concentração e a maneira como seus conhecimentos em Química (o autor era formado em Química pela Faculdade de Turim) ajudaram-no a sobreviver ao regime de escravidão imposto pelos nazistas.

Dividido em dezessete capítulos, o relato orienta-se menos pela exposição de detalhes cruéis ou para acrescentar “novas denúncias” sobre o assunto do que para atender à “finalidade de libertação interior” do autor. Em uma passagem do prefácio, lemos a seguinte afirmação: “Ele (o livro) poderá, antes, fornecer documentos para um sereno estudo de certos aspectos da alma humana”. Em sua análise, Primo Levi observa que os germes dos campos de concentração encontram-se no nacionalismo e na xenofobia. Quando se assume a ideia de que “cada estrangeiro é um inimigo, então”, explica o autor, “como último elo da corrente, está o Campo de Extermínio”.

A narrativa inicia em 13 de dezembro de 1943, quando Levi e seus companheiros de guerrilha são presos por uma milícia fascista, num “espectral alvorecer de neve”. Tinha vinte e quatro anos na ocasião e pertencia ao grupo de resistência antifascista, Giustizia e Libertà. O angustiante relato da noite que antecede a transferência dos prisioneiros e a consumação do translado para Auschwitz é particularmente comovente. “Era isso mesmo, ponto por ponto: vagões de cargas, trancados por fora, e, dentro, homens, mulheres e crianças socadas sem piedade, como mercadoria barata, a caminho do nada, morro abaixo, para o fundo”.

Transposto o umbral, terão contato com o cotidiano violento do campo; seus nomes serão substituídos por números tatuados no braço direito; serão obrigados a conhecer pouco a pouco a topografia do ambiente, que incluia uma enfermaria, uma cozinha, um barraco para duchas e latrinas, um escritório central e até um prostíbulo exclusivo para os alemães.

Em pouco tempo, o olhar arguto do narrador percebe a hierarquia que predomina entre os prisioneiros, composta por criminosos, políticos e judeus, estes últimos ocupando a base da pirâmide hierárquica do campo. No decorrer de seu relato, percebemos como a fome, o frio e a exaustão constante provocada pelos trabalhos forçados privam os prisioneiros de gestos simples como o de olharem-se nos olhos. Cabisbaixos, sentem vergonha de se mirarem em semelhante situação. Esquivam-se dos olhares para não serem vistos e para não enxergarem, reduzidos a condição de trapos humanos. Em um dos diálogos, Steinlauf, prisioneiro do campo, explica ao narrador a importância de tentar manter-se limpo, ainda que isso implique sérias dificuldades. Manter-se limpo, nesse lugar, para quê?, pergunta o narrador. Para resistir à tentativa de nos reduzirem a animais, responde o outro.

A chegada ao campo, onde é possível ler em grandes letras no portão de entrada, ‘ARBEIT MACHT FREI’ (o trabalho liberta) é o primeiro impacto efetivo daquela realidade brutal sob os prisioneiros recém chegados.

A chegada da primavera, os primeiros raios de sol que aos poucos começam a despontar no horizonte cinzento da Polônia, trazem uma alegria frugal aos prisioneiros. “Hoje é um dia bom. Olhamos ao redor, como cegos que recuperaram a visão, e nos entreolhamos. Nunca nos víramos no sol! Alguém sorri. Se não fosse pela fome…”. No campo, qualquer utensílio vira moeda de troca. Assim, muitos prisioneiros extraíram a coroa de ouro de seus dentes para trocar por porções de pão, tabaco ou sopa. Primo Levi refere-se à comida entregue aos prisioneiros como “ração” e à busca por eventuais fugitivos como “caçada”, reforçando a condição de animais e a pergunta que intitula sua obra: é isto um homem?

Uma manhã, membros da SS recrutam prisioneiros para a função de assistentes do Kommando 98 (o setor químico do campo) para realizarem uma prova de admissão onde são exigidos conhecimentos e habilidades em Química. O protagonista sente um alívio imediato quando percebe que ele, o número 174.517, fora admitido. Passagens como a do capítulo “O canto de Ulisses”, onde o narrador tenta traduzir alguns versos de A divina comédia para seu interlocutor francês, e percebe, como se ouvisse aqueles versos pela primeira vez, como o trecho do poema de Dante diz respeito não apenas à sua condição, mas a de todos os homens em situação de sofrimento e desespero.

“Considerate la vostra semenza:
Fatti no foste a viver come bruti,
Ma per seguir virtude e conoscenza”*

*(Relembrai vossa origem, vossa essência; / vós não fostes criados para bichos, / e sim para o valor e a experiência).

Se por um lado as memórias de Primo Levi são um acerto de contas do autor consigo mesmo, por outro lado ela nos faz recordar e nos indica a extensão do projeto de extermínio que os alemães se empenharam em impor ao homem. Seu relato é um tributo à resistência daqueles que sobreviveram e dos que não resistiram a Auschwitz. “Das 45 pessoas do meu vagão, só quatro tornaram a ver suas casas; e o meu vagão foi, de longe, o mais afortunado”. Em um cenário com agressão a imigrantes no Norte do Brasil, recrudescimento do discurso racista e xenófobo nos EUA e Europa, a voz de Levi soa ainda mais indispensável e atual.

É ISTO UM HOMEM | Primo Levi

Editora: Rocco;
Tradução: Luigi Del Re;
Tamanho: 176 págs.;
Lançamento: Janeiro, 1987.

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Tags: AuschwitzBook ReviewCrítica LiteráriaÉ isto um homem?Editora RoccoHolocaustoliteratura italianaMemóriasPrimo LeviResenhaReviewSegunda Guerra Mundial

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