A Academia Brasileira de Letras elegeu na última quinta-feira (30) o cineasta Cacá Diegues para ocupar a cadeira número 7 e substituir Nelson Pereira do Santos, falecido no último mês de abril. A votação foi feita por escrutínio secreto, na qual Diegues venceu outros dez candidatos.
Dos 35 votos que definiram a disputa, o segundo colocado foi Pedro Corrêa do Lago, colecionador de manuscritos e pesquisador, com 11 votos. E o terceiro, a escritora mineira e negra Conceição Evaristo, que recebeu 1 voto.
Normalmente acompanhada com indiferença pelo público, esta eleição gerou atenção por conta de uma campanha na internet a favor de Evaristo, com 25 mil assinaturas. A escritora mineira é um dos grandes nomes da literatura negra brasileira e, se fosse eleita, seria a primeira mulher negra a ingressar na ABL.
Em julho, no coquetel de abertura da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), a própria autora dizia saber que não seria escolhida. Na ocasião, Conceição Evaristo afirmou querer que sua candidatura servisse para provocar um debate. De fato, sua candidatura ressaltou a homogeneidade da academia, que, à exceção de Domício Proença Filho, é composta majoritariamente por brancos.
Apesar da mobilização popular, a academia optou por manter o mesmo perfil do ocupante anterior, causando grande polêmica. Marco Lucchesi, presidente da ABL, emitiu uma declaração: “A Academia celebra a presença de Cacá Diegues em seus quadros. Um dos mais premiados cineastas brasileiros, cuja obra lança um olhar profundo e generoso sobre nosso país. Crítico refinado, diretor reconhecido além fronteiras. Sua entrada é uma homenagem ao saudoso Nelson Pereira dos Santos, de quem foi amigo, através das novas lentes que ambos construíram para ver mais longe a nossa realidade”.
A cadeira 7 da ABL foi ocupada anteriormente por Valentim Magalhães (fundador), que escolheu o poeta baiano Castro Alves como patrono, seguindo-se Euclides da Cunha, Afrânio Peixoto, Afonso Pena Júnior, Hermes Lima, Pontes de Miranda, Dinah Silveira de Queiroz e Sergio Corrêa da Costa.
Apesar da mobilização popular, a academia optou por manter o mesmo perfil do ocupante anterior, causando grande polêmica.
A candidatura de Cacá Diegues foi incentivada pela família de Nelson Pereira dos Santos, de quem era próximo. Ao articular a campanha, recebeu apoio do próprio Proença Filho e de nomes como Zuenir Ventura, Merval Pereira, Marcos Vilaça, Cícero Sandroni e Ana Maria Machado. O cineasta frequenta os salões da ABL desde pelo menos a eleição de João Ubaldo Ribeiro, em 1993, quando ajudou na campanha.
Fundador do Cinema Novo
Nascido em 19 de maio de 1940, em Maceió, Cacá Diegues é um dos fundadores do Cinema Novo. Teve os primeiros poemas publicados pelo Jornal do Brasil, em 1958, aos 18 anos. Foi um dos fundadores do movimento cineclubista do Rio de Janeiro e participou do movimento do Cinema Novo, liderado por Nelson Pereira dos Santos. A estreia profissional ocorreu em 1962, quando dirigiu um dos episódios do filme Cinco vezes Favela, considerado uma das obras inaugurais do movimento.
Ao longo da carreira, fez mais de 20 filmes de longa-metragem. Entre os mais premiados estão Xica da Silva (1976), Bye Bye Brasil (1980), Veja esta canção (1994) e Tieta do Agreste (1995). A maioria foi selecionada por grandes festivais internacionais e exibida comercialmente na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina, o que o torna um dos realizadores brasileiros mais conhecidos no mundo.
Na literatura, publicou Ideias e Imagens (1988). Também é autor de Vida de Cinema, em que faz um diagnóstico do Cinema Novo, e Todo Domingo, coletânea de textos publicados semanalmente no jornal O Globo.
Cacá Diegues tem três filhos: Isabel e Francisco, do seu casamento com a cantora Nara Leão – de quem se separou na década de 1970 -, e Flora, fruto do casamento com a produtora de cinema Renata Almeida Magalhães, com quem vive desde 1981.