Sôbô (Ateliê Editorial, 2008, tradução Maria Fusako Tomimatsu, Monica Setuyo Okamoto e Takao Namekata), de Tatsuzô Ishikawa, é um romance sobre a imigração japonesa ao Brasil do ponto de vista japonês. Muitas são as narrativas sobre o tema do ponto de vista do imigrante que veio ao nosso pais. Esta mudança de perspectiva influencia também a mudança do espaço narrativo.
Sôbô é dividido em três partes. A primeira descreve a hospedagem dos imigrantes no porto de Kobe. A segunda, a viagem. A terceira, a chegada. A primeira e segunda partes são mais extensas tomando 80% da narrativa. Nos relatos fictícios de imigrantes japoneses, como o filme Gaijin, de Tizuka Yamazaki, e no O imigrante japonês, diário do artista plástico Tomoo Handa, as tramas se passam exclusivamente em território brasileiro.
Tatsuzo Ishikawa imigrou para o Brasil nos anos 30 e ficou durante 6 meses por aqui. Fez um acordo com a revista em que trabalhava para escrever artigos sobre a imigração. Ao chegar à hospedaria de imigrantes no porto de Kobe, ponto de partida dos navios “Maru”, ficou espantado com a pobreza dos viajantes. Decidiu escrever um romance. Em 1933, lançou a obra Sôbô. O romance recebeu o Prêmio Akutagawa, em 1935.
O título, Sôbô, é composto por dois ideogramas. Sô remete a Sôsei, “povo”, ou “cor de capim”, “apressar-se”, “envelhecer”. Bô, a “imigrante”, “povo subjugado”. O imigrante é comparado ao capim ou erva daninha, como algo desprezível.
O escritor projeta uma lente de aumento sobre a vida dos trabalhadores rurais, ao contrário de narrativas que enfocam o individualismo da classe média urbana. A trama gira em torno das aflições e expectativas de um casal de irmãos, Magoichi e Onatsu. Eles vêm como agregados da família Monma. Ela é casada, apenas por conveniência às regras, como um dos irmãos Monma.
O título, Sôbô, é composto por dois ideogramas. Sô remete a Sôsei, “povo”, ou “cor de capim”, “apressar-se”, “envelhecer”. Bô, a “imigrante”, “povo subjugado”. O imigrante é comparado ao capim ou erva daninha, como algo desprezível.
“Magoichi, ao passar em frente ao funcionário que estava chamando os nomes, ficou com medo de ser repreendido. Na verdade, a irmã Onatsu e Katsuji não eram marido e mulher. Katsuji Monma era amigo da família e fora, apenas formalmente, registrado como sendo da família Sat, na qualidade de genro. Estavam sendo obrigados a simular serem um casal, visto que não estavam dentro das normas exigidas pelo governo para receber o auxílio-viagem a imigrantes. Uma das exigências era de que o ‘o casal deve ter idade abaixo de cinquenta anos e os membros da família terem acima de doze anos’. A senhora Monma e seus dois filhos, juntamente com Magoichi e sua irmã, eram dois grupos que se uniram formando, temporariamente, uma única família. Porém, essa ideia astuta não fora de Magoichi: ele havia sido instruído pelo senhor Yamada, um representante regional de uma agência de recrutamento de imigrantes. Portanto, não havia motivos para serem repreendidos: aliás, para os encarregados, era uma situação extremamente normal. Eles deveriam, na verdade, incentivar esse tipo de conduta, pois assim aumentariam o desenvolvimento dos países estrangeiros e contribuíram para a diminuição dos problemas de aumento populacional do Japão. Vendo sob esta ótica das empresas de empreendimento internacional, a imigração, mesmo de uma única pessoa, era um negócio bastante lucrativo. Para o representante regional, o senhor Yamada, os imigrantes por ele negociados já lhe haviam rendido um bom dinheiro.” (Páginas 24 e 25)
Magoichi e Onatsu são bastante ingênuos e se deixam enganar por todos. Eles sintetizam o espírito dos camponeses, ao mesmo tempo com disposição física e limitados na defesa de interesses individualistas. Grande parcela do romanceiro da imigração japonesa ao Brasil versa sobre a burguesia, mas o proletariado rural era o perfil da maioria absoluta dos imigrantes.
Nem todos os imigrantes são ingênuos. Há os mais abastados, que conseguem burlar as leis de imigração. E há os que descobrem, só na viagem, que também no navio as diferenças entre as classes sociais serão mantidas.
“O cotidiano no navio já passava dos vinte dias. Se ainda estivesse em sua terra natal, continuaria sendo um trabalhador rural honesto e virtuoso, que não tinha consciência de nada. Mas, ao embarcar no navio e começar a ajudar na cozinha, tomou conhecimento de algo chamado ‘classe social’. O senhor Oizumi, um sujeito tão pacato em Kobe, ao tomar ciência de um outro mundo, passou a se comparar com os passageiros de primeira classe. Não só isso, mas ele vira também, no porto, o navio adquirir grandes quantidades de laranjas e bananas. Ele sabia também que, todos os dias, às três da tarde, os marujos levavam um lanche da tarde aos passageiros da primeira classe e aos altos funcionários do navio. Testemunhou também que os passageiros da primeira classe tinham suas roupas lavadas e passadas e, toda noite, os estrangeiros bebiam uísque e se divertiam ouvindo vitrola na varanda-café.” (Página 167)
Tatsuzo Ishikawa nasceu em 1905, na região norte do Japão, na província de Akita. Ingressou na Universidade Waseda, em Tóquio, mas por problemas financeiros, desistiu do curso. Desde estudante queria ser escritor. Em 1928, embarcou para o Brasil no navio La Plata Maru. Trabalhou por aqui e voltou ao Japão. Escreveu o romance, premiado anos depois. Os temas sociais eram o seu forte.
[box type=”info” align=”” class=”” width=””]SÔBÔ | Tatsuzô Ishikawa
Editora: Ateliê Editorial;
Tradução: Maria Fusako Tomimatsu, Monica Setuyo Okamoto e Takao Namekata;
Tamanho: 264 págs.;
Lançamento: 2008.[/box]