Quando pensamos em literatura, o que vem à mente é uma história contada na forma de um texto escrito. Sem dúvida é a maneira mais convencional. Porém, a literatura também pode ser representada na forma de ilustrações e desenhos. Se pensarmos bem, de fato foi assim que o homem registrou suas primeiras mensagens. E foi por meio delas que muitos de nós tivemos o primeiro contato com um livro ainda na infância.
Para a artista plástica Verônica Fukuda, a ilustração tem um papel fundamental dentro do universo literário, seja compondo o interior da obra, seja na capa de um livro como um chamariz. Afinal, quem nunca ouviu a célebre frase de se comprar um livro pela capa?
Ilustradora do livro A Cura dos Sentimentos nos Pequeninos (2015), da autora paranaense Adriana Potexki, Verônica explica que esse não é apenas um trabalho de traduzir o texto em imagem. “A ilustração tem que dar conta do que o texto não explica, indo além dele”, diz.
É o caso principalmente de livros infantis, nos quais, muitas vezes, o texto acaba não sendo muito explícito. É ao observar as imagens que a criança poderá compreender muitas das ações e sentimentos dos personagens
Um exemplo disso é o livro Meu Amigo Bóris (2015), escrito por Verônica, engavetado por mais de três anos, por causa de seu desejo de ilustrá-lo. “Sempre acabava deixando para depois por causa do trabalho, até que decidi convidar uma amiga que estava iniciando a carreira nessa área. Falei pra ela que se ela não ilustrasse, acabaria deixando mais três anos guardado”, brinca.
O livro tem uma narrativa delicada ao tratar o tema da perda pela perspectiva de uma criança. Em nenhum momento do texto, Verônica deixa claro qual é a perda, pois é nas ilustrações que essa falta é contada. “Depois do lançamento, foi engraçado ver que muitos pais acabavam por não perceber a charada. Já quando eu perguntava para as crianças, elas respondiam de pronto.”
O livro tem uma narrativa delicada ao tratar o tema da perda pela perspectiva de uma criança.
Para Verônica, essa ligação entre ilustração e literatura é mais do que um complemento. Demorou um tempo e até mesmo uma fase de aceitação para que ela percebesse que, sempre que tinha liberdade para criar, suas obras traziam traços de contos de fadas. “No começo, eu tentava disfarçar, por achar que eu era velha demais para esse universo. Mas não teve jeito e assumi de vez.”
Mas, como viver de arte no Brasil é difícil – para não dizer no mundo –, Verônica aposta na diversificação. Ela é dona do Ateliê Ma Fille, onde ela cria sua linha de produtos com estampas de ilustrações originais. Os artigos vão de vestuários à papelaria e decoração.
Também, com o passar do tempo, começou a se dedicar cada vez mais à escrita, mas sem cobranças. Escreve como um hobby, só quando se sente inspirada. Já tem um livro de crônicas iniciado, sobre pessoas que conheceu e lhe fizeram refletir sobre algo. Na última contagem já tinha cerca de 40 textos, faltando 60 para poder publicar. Sem pressa, aproveita cada encontro para uma oportunidade. Quem sabe eu não viro um capítulo também.