• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Literatura

Wislawa Szymborska sob o Sol

Em um poema aparentemente singelo, a autora polonesa Wislawa Szymborska revela muito de sua arte poética.

porLuiz Henrique Budant
30 de julho de 2018
em Literatura
A A
Szymborska sob o Sol

Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Já tive oportunidade de escrever sobre Wisława Szymborska. Naquela ocasião, tentei mostrar que a Nobel polonesa escreve sobre temas deveras complexos como se estivesse brincando, jogando, porém, com regras muito precisas e, especialmente, usando o gracejo como um importante instrumento literário.

Hoje, gostaria de compartilhar um poema de Szymborska. O título, singelo apenas na aparência, é “Sob uma estrela pequenina”. Ele encerra o tomo Wszelki Wypadek (Todo o caso, de 1972), em que a autora especialmente investiga temas como acaso, destino e tempo. Em português, ganhou voz na tradução de Regina Przybycien e foi publicado no livro Poemas, publicado pela Companhia das Letras, em 2011.

Depois de lermos “As cartas dos mortos” e sabermos que “tudo que previam aconteceu de modo totalmente diverso / ou um pouco diverso, o que é o mesmo que totalmente diverso”, depois das engraçadas implicações morais de “Um amor feliz” e, em todo caso, de nos espantarmos com o quanto de nossa vida é puro acaso, ainda que prefiramos chamá-lo “destino”, a autora se despede, sob uma estrela pequenina (embora 332.900 vezes maior do que a Terra), com um longo pedido de desculpas.

As muitas faces de Szymborska ainda renderão muitos sorrisos, algum choro e, sem dúvida, longas reflexões.

Os “destinatários” deste pedido de desculpas são os grandes temas que a poeta investiga em seu livro. Contudo, aparentemente, aqui o eu-lírico é apenas um ser humano “sob uma estrela pequenina” (talvez seja eu enxergando demais, mas há algo de “não há nada de novo sob o Sol” sob esta estrela pequenina).

A tudo se pede perdão. Ao acaso, à necessidade, aos mortos, ao mundo, aos desertos, “à árvore cortada pelas quatro pernas da mesa”, às grandes perguntas… Enfim, a tudo que o ousado eu-lírico quer tentar entender, mas que talvez seja humano demais para entender.

Encerrando o poema, surgem as seguintes frases:

“Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves”.

Temos em mão uma preciosa reflexão da poeta sobre seu próprio ofício. Neste momento, quero eu pedir desculpas às senhoras e aos senhores por citar aqui o original:

“nie miej mi za złe, mowo, że pożyczam patetycznych słów,
a potem trudu dokładam, żeby wydały się lekkie.”

Complexa é a tradução de “patetycznych słów”. Patéticas, sim, no sentido dicionarizado, mas pode causar alguma confusão ao leitor. Patetyczny, embora soe parecido (creiam-me, soa, apesar dos yy e do cz), não traz consigo a ideia de ridículo, pelo contrário, patetyczny é profundamente dramático, cheio de pathos (pensando bem, talvez consigamos chegar no ridículo se pensarmos que “todas as cartas de amor são ridículas”…).

Há uma oposição muito forte, na própria estrutura do poema, entre as “palavras patéticas” e o “fazê-las parecer leves”. A palavra é dramática, é cheia de pathos, é, pois, pesada; ao passo que o fazer poético tenta fazê-la parecer leve.

Szymborska faz isso ao longo de sua obra, faz uso de doses de ironia e, muitas vezes, de um humor que surge ninguém sabe bem de onde.

Contudo, o tom deste poema é distinto.

Aqui, as palavras-tema, personificadas e tratadas no vocativo (isso se percebe muito claramente quando lemos o original, pois a marcação do vocativo de palavras como “verdade”, “seriedade” e “segredo do ser” chega a soar pesada), dão um ar “dramático” ao poema, embora o eu-lírico trate de tentar imprimir nele leveza:

“Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.”
[…]
“Ature, segredo do ser, se eu puxo o fio de suas vestes.”

Gosto de entender o ar sério deste poema como autoironia e gracejo. Contudo, quando temos de lidar com uma poeta da estatura de Szymborska, precisamos estar sempre atentos, porque, quem sabe, estejamos lidando com aquilo que, há muito tempo, já nos alertou Fernando Pessoa em sua “Autopsicografia”:

“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir ser dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm. […]”

As muitas faces de Szymborska ainda renderão muitos sorrisos, algum choro e, sem dúvida, longas reflexões.

ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA

Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.

CLIQUE AQUI E APOIE

Tags: AnáliseCompanhia das LetrasCrítica Literáriafernando pessoaLiteraturaPoesiapoesia polonesaWislawa Szymborska

VEJA TAMBÉM

Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.
Literatura

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Nascido em Fortaleza, o escritor Pedro Jucá vive em Curitiba. Imagem: Reprodução.
Literatura

‘Amanhã Tardará’ emociona ao narrar o confronto de um homem com seu passado

28 de maio de 2025
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Calçadão de Copacabana. Imagem: Sebastião Marinho / Agência O Globo / Reprodução.

Rastros de tempo e mar

30 de maio de 2025
Banda carioca completou um ano de atividade recentemente. Imagem: Divulgação.

Partido da Classe Perigosa: um grupo essencialmente contra-hegemônico

29 de maio de 2025
Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Rob Lowe e Andrew McCarthy, membros do "Brat Pack". Imagem: ABC Studios / Divulgação.

‘Brats’ é uma deliciosa homenagem aos filmes adolescentes dos anos 1980

29 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.