“We sail tonight to Singapore, we’re all as mad as hatters here (…)”. Em uma viagem fictícia por Singapura, começa assim o verso de abertura do marcante Rain Dogs, álbum essencial na discografia de Tom Waits. Pulando algumas músicas, caímos em “Jockey Full Of Bourbon”, balada noir que nos desloca para um outro ponto perdido no mapa-múndi. “Yellow sheets on a Hong Kong bed (…)”. As referências geográficas nas composições de Waits ultrapassam muito os limites fronteiriços da Califórnia, seu estado de nascença, e de todos os cantos dos Estados Unidos.
Seu pai era descendente de irlandeses e escoceses, e a mãe, de noruegueses. Talvez, só conhecendo Tom Waits pessoalmente e a fundo seria possível perguntá-lo se as origens familiares têm algum fator influenciador na criação de composições que carregam histórias ambientadas nos quatro cantos do planeta. Mas seria limitante demais. É preferível acreditar na potência criativa de suas letras. Até porque, ele é, acima de tudo, um personagem de si mesmo, jogando por décadas um elaborado jogo com a mídia e com o público, escondendo sua persona por trás de seus projetos.
As referências geográficas nas composições de Waits ultrapassam muito os limites fronteiriços da Califórnia, seu estado de nascença, e de todos os cantos dos Estados Unidos.
Como afirma o jornalista musical e ensaísta Robert Christgau, “a ideia da personalidade do artista é sua criação fundamental”. Assim como a biografia de Bukowski busca aparar alguns vãos entre a ficção e a realidade na vida do escritor, a vida e a obra de Tom Waits se entrecruzam em vários pontos, mas desconfiemos de bons atores: a vida pública pode ser sempre uma grande atuação.
Incontestável é que a envolvente (e torturante) paisagem emocional de Tom Waits percorre inúmeros cenários reais dentro do imaginário do letrista. Das selvas africanas aos bairros de Nova York, do rio Ganges na Índia a uma prisão em Cuba, de Roma a Jerusalém. São histórias completas, bem contadas e magnificamente ambientadas.
Jonas Nordström, um fã sueco, percebeu essa marca cartográfica nas composições do artista e criou através do Google Maps um site interativo com dezenas de pins posicionados sobre os lugares reais referenciados nas mais diversas letras do cantor. Clicando sobre os pins, você encontra o trecho da letra que cita o local, o nome da música a qual o trecho pertence e o seu álbum com ano de lançamento. Ponto para a internet, mais uma vez.
Para explorar essa cartografia musical, acesse The Tom Waits Map – e bon voyage.