O ska já está marcado no imaginário do ouvinte (ou assim deveria ser) e na história da música contemporânea. Sem dúvida que muito mudou do final dos anos 50 para o ska que temos ouvido hoje. E toda essa mudança passa pelas ondas que foram sendo consolidadas ao longo dos anos, combinando elementos caribenhos com a influência do R&B, jazz e, mais recentemente (um recente com quase 30 anos de distância) as vertentes roqueiras, especialmente o hardcore.
Não é erro dizer que nossa memória estará mais condicionada aos exemplos norte-americanos como The Mighty Mighty Bosstones, Voodoo Glow Skulls ou mesmo o Sublime, mas nós, latinos, também abraçamos com muito amor o ritmo, como nos mostram os argentinos da Fabulosos Cadillacs e os mexicanos da Maldita Vecindad.
No Brasil, de Os Paralamas do Sucesso a Skuba, Raimundos e Los Hermanos (em sua fase pré-Anna Júlia, importante frisar), passando por uma diluição na sonoridade do Móveis Coloniais de Acaju ou na tradição da Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, o ska passou a frequentar de forma mais comum o mainstream da música nacional – no início dos anos 90, era difícil um artista nacional não ter em seu repertório ao menos uma canção à la ska.
Em perspectiva aos trabalhos anteriores do grupo curitibano, Welcome deixa de lado referências mais díspares para marcar seus riffs pelo tradicionalismo da terceira onda ska.
Para nós do Paraná, mais especificamente de Curitiba, é quase impossível não citar a Abraskadabra, banda que acaba de lançar seu segundo álbum completo, o sem rodeios, frontal, aberto e sincero Welcome, um registro com poderosos acordes melódicos, agressivo na medida exata, unindo brilhantismo técnico com uma visão acurada e cheia de multiplicidade musical.
Em perspectiva aos trabalhos anteriores do grupo curitibano, Welcome deixa de lado referências mais díspares para marcar seus riffs pelo tradicionalismo da terceira onda ska, sem, no entanto, fazer uso da invariabilidade estética ou se apegar a uma rigidez harmônica. O resultado disso é um disco pungente, direto, que se conecta ao público especialmente por sua urgência, rítmica e lírica, conectadas pelos temas abordados em suas canções.
A Abraskadabra é feliz na sua estratégia de criar uma roupagem cativante através dessa maior aproximação com o skacore, uma vertente que apara preciosismos e se foca em seus propósitos, seja pelo caráter mais jovial ou mesmo pela própria urgência de que a mensagem seja rapidamente transmitida e absorvida pelo público. Não obstante, cria-se uma similitude nas faixas, que ecoa quase como um ruído, menos perceptível ao ouvinte médio, mas que dá a impressão de que essa mínima amplitude, ou seja, a carência de um ápice, torna o álbum muito homogêneo. Para sorte de todos, ao menos uniformidade é em alto nível.